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05/02/2009 - 11h24

"O Leitor" discute culpa e omissão após o Holocausto

SÃO PAULO - Pela sua atuação no drama "O Leitor", a atriz inglesa Kate Winslet recebeu sua sexta indicação ao Oscar e desponta como a favorita na categoria de melhor atriz, depois de já ter ganho o Globo de Ouro pelo drama, mas como atriz coadjuvante. "O Leitor" concorre ainda em outras quatro categorias: melhor filme, diretor, roteiro adaptado e fotografia.


Kate é Hanna Schmitz, uma alemã cobradora de bonde que na década de 1950 conhece e se envolve com um jovem de 15 anos, chamado Michael Berg (o ator alemão David Kross). O romance entre os dois é tórrido. O rapaz envolve-se profundamente, pois este é seu primeiro grande amor. Para ela, o caso parece não ir além do sexo.

Hanna e Michael passam muito tempo juntos, ora namorando, ora lendo. Na verdade, é ele quem lê para ela livros como "A Odisséia", "As Aventuras de Huckleberry Finn" e contos de Anton Tchekhov.

Porém, um dia ela o abandona, deixando Berlim depois de receber uma promoção no seu trabalho. O rapaz cresce atormentado por essa perda. Isso o traumatizou tanto que, décadas depois, ele não consegue estabelecer vínculos com as pessoas.

Michael só irá reencontrar Hanna anos mais tarde, quando ele, estudante de direito, assiste a um julgamento de ex-carcereiras do campo de concentração de Auschwitz. Para sua surpresa, Hanna está entre as rés.

Nesse momento, "O Leitor" levanta duas questões sobre a culpa. A primeira tem a ver com a responsabilidade dos agentes do Holocausto. A segunda, e mais interessante, transcende ao jogar para cima de Michael uma dúvida cruel: ele tem uma informação capaz de inocentar Hanna, mas, se a revelar, poderá ajudar uma possível culpada por crimes nazistas a escapar ou ter reduzida sua pena. Além de ter de expor seu relacionamento juvenil com a ré.

Essa ambiguidade poderia muito bem servir de metáfora para a omissão diante dos horrores nazistas: a busca por um bode expiatório. Michael, assim como o autor do livro no qual o filme é baseado, Bernhard Schlink, pertence à geração que passou pela adolescência na época da ascensão do nazismo. Eles podiam não entender o que acontecia -- mas seus pais, mais cedo ou mais tarde, souberam dos horrores e a maioria se omitiu.

Anos mais tarde, quando Michael -- agora vivido por Ralph Fiennes -- reencontra uma sobrevivente de Auschwitz e revela a ela o segredo de Hanna, a mulher (Lena Olin) pergunta se isso é uma explicação ou uma desculpa. Não há resposta da parte dele -- o que não é uma surpresa, pois a questão é mesmo da maior complexidade.

O diretor inglês repete a parceira de "As Horas" com o roteirista David Hare, conseguindo melhores resultados na primeira parte -- o tórrido romance entre Hanna e Michael -- do que nos dois atos finais, o julgamento e a tentativa de Michael de reparar seu erro.

Kate Winslet mostra o talento e a profundidade de sempre, injetando humanidade num personagem complexo. Mas não deixa de ser frustrante sua indicação por este filme, uma vez que ela está muito melhor em "Foi Apenas um Sonho".

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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