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12/02/2009 - 18h09

Anne Hathaway concorre ao Oscar como ovelha negra em "O Casamento de Rachel"

SÃO PAULO - Como o título do novo filme de Jonathan Demme indica, o casamento em questão pode ser o de Rachel, mas quem chega para roubar a cena é a ovelha negra da família Kym (Anne Hathaway, indicada ao Oscar por esse filme).

Figura magnética, a moça consegue atrair todas as atenções na rápida saída da clínica de reabilitação, onde estava internada para livrar-se de uma dependência química séria que arruinou a família e quase acabou com sua vida.


"O Casamento de Rachel", que estréia em todo o país, é um filme diferente dos modelos do cinemão norte-americano atual. Mas, convenhamos que Jonathan Demme não se entrega totalmente aos padrões vigentes, nem mesmo quando fez produções mais caras em Hollywood.

Roteirizado por Jenny Lumet (filha do cineasta Sidney Lummet), este drama acompanha alguns dias da vida de uma família durante as preparações e a cerimônia de um casamento.

Com uma série de personagens bem delineados e plausíveis e uma câmera solta seguindo essas pessoas, "O Casamento de Rachel" soa como um cruzamento entre os filmes-corais de Robert Altman (em especial "Cerimônia de Casamento") e as produções do Dogma 95 (principalmente "Festa de Família").

Mas, nas mãos de Demme, nada disso parece indevidamente apropriado. O diretor de "O Silêncio dos Inocentes" é capaz de reler a seu modo cada uma das influências que recebeu, sem ser satírico ou cruel, como os dois filmes que o influenciaram.

O que move a narrativa em "O Casamento de Rachel" é a forma como cada personagem evolui ao longo desses poucos dias que antecedem a festa. Kym reencontrará a família que não revê há muito tempo. Para ela, é a chance de se redimir dos erros do passado. Nem a personagem ou o filme buscam uma redenção. Tanto Demme quanto a atriz sabem que Kym é narcisista, mas, ao mesmo tempo, frágil.

Se cada família é infeliz ao seu modo, Rachel (Rosemarie DeWitt) não pretende que essa infelicidade contamine suas bodas. Assim, ela faz de tudo para manter Kym na linha. Mas lembranças tristes do passado, que insistem em voltar à tona, colocam tudo a perder.

O público, mais do que os personagens, percebe que o passado jamais deixará de existir e que a família terá de aprender a conviver com ele, sem tentar varrê-lo para debaixo do tapete. Nesse sentido, por mais atrapalhada que Kym seja, em alguns momentos ela parece ser a pessoa mais sensata do mundo.

Ao contrário de seus pais (interpretados por Bill Irving e Debra Winger ), Rachel está interessada em que seu casamento dê certo. Quando se trata da cerimônia, aliás, não poderia ser mais multicultural. Desde roupas indianas até mulatas brasileiras sambando animam a festa. Mas a eloquência maior parte do coração dos personagens, principalmente quando os parentes, em especial pais e filhas, tentam esquecer os erros do passado, por mais dolorosos que sejam.

O desenrolar da história poderia muito bem cair no sentimentalismo rasgado. Mas Demme e a roteirista Jenny Lumet apresentam e desenvolvem tudo com tanta sagacidade que o filme nunca se desvia do rumo.

Os méritos, aliás, não são apenas deles. O elenco contribui com uma parcela fundamental, dando veracidade aos personagens. Anne Hathaway surpreende àqueles que estavam acostumados a vê-la como uma princesa. Numa cena ao lado de Debra Winger, ela mostra que Kym não é tão problemática por acaso. O filme nunca a julga, mas o público tem o privilégio de saber que a verdade é dolorosa.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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