SÃO PAULO - "Rio Congelado", que estreia em São Paulo e no Rio e está indicado a dois Oscar (atriz e roteiro original), é um filme para o presente - para tempos de crise econômica que se traduzem em melancolia. Com poucos recursos financeiros, seus personagens tentam sobreviver de todas as formas dentro da legalidade, mas chegam ao limite.
Ray, interpretada por Melissa Leo ("21 Gramas"), vive numa região gelada na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá. Ela foi abandonada pelo marido, que levou o dinheiro da prestação de uma casa que estavam pagando. A poucos dias do Natal, ela precisa recuperar o dinheiro ou perde tudo, inclusive, o que já pagou.
Depois de tentativas frustradas de encontrar o marido, Ray conhece Lila (Misty Upham), uma nativa descendente de mohawks, que vive numa reserva indígena na região. A garota trabalha num bingo, mas enfrenta problemas porque ganha pouco e está perdendo a visão.
Uma série de desentendimentos acaba unindo as duas personagens num trabalho arriscado: atravessar imigrantes ilegais para os Estados Unidos pela fronteira de Quebec. Como o rio que une os dois países está congelado, elas não precisam passar pela ponte, onde certamente seriam barradas em algum posto policial.
Escrito e dirigido pela estreante Courtney Hunt, o filme tem ingredientes de suspense, mas combina também estudo de personagens com realismo social: Ray tem dois filhos, ganha pouco e está cansada de levar uma vida de privações; o marido de Lila morreu e seu filho de um ano foi tomado pela sogra. Todo o dinheiro que ganha é destinado à criança.
Ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance do ano passado, "Rio Congelado" tem o perfil do cinema independente norte-americano, ou seja, baixo orçamento, história humanista e tema local com reflexo global.
A diferença deste para os demais que seguem a mesma cartilha está na forma como Courtney demonstra seus sentimentos pelos personagens.
Sundance, nos últimos anos, transformou-se numa grife de promoção para filmes tão diferentes quanto "Pequena Miss Sunshine" (2006) e "Amnésia" (2001). "Rio Congelado", porém, consegue elevar-se acima do selo de aprovação do festival ao deixar de lado o mero exercício de estilo para investir com força num drama mais pungente, colocando no centro seus personagens.
Somem-se a isso as interpretações acertadas de Melissa e Misty e o resultado é um filme forte e emocionante que trafega por caminhos tortuoso sem nunca cair no abismo do exagero nem da pieguice.
"Rio Congelado" é um filme pequeno, ciente da sua dimensão e, por isso mesmo, capaz de ultrapassar suas ambições.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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