SÃO PAULO (Reuters) - Concorrente a dez Oscar neste domingo de Carnaval, a comédia dramática "Quem Quer ser um Milionário?", de Danny Boyle, tem estreia oficial marcada para o próximo dia 6 de março. Mas, aproveitando a notoriedade e algumas brechas no circuito, o filme está em pré-estreia a partir de sexta em 100 telas em todo o país, tanto em cópias 35 mm como digitais.
Indicado nas categorias melhor filme, diretor, roteiro adaptado, fotografia, montagem, trilha original, som, edição de som e duas canções, "Quem Quer ser um Milionário?" investe num melodrama recheado de música que segue a fórmula mais consagrada em Bollywood - como é chamado informalmente o rico e bem-sucedido pólo de produção cinematográfico indiano, que rivaliza em tamanho e riqueza com Hollywood.
Trata-se de um filme muito diferente dos anteriores do diretor Boyle, conhecido pelo frenesi pop de "Cova Rasa" (1995), "Trainspotting" (1996), "A Praia" (2000) e "Extermínio" (2002). Entre outras coisas, porque o cineasta de 52 anos, inglês de Manchester, nunca havia pisado na Índia e topou o desafio de fazer um filme naquele país. Metade dos diálogos são em hindi, idioma que ele não entende. Para superar os desafios, Boyle contou com a parceria de uma co-diretora hindu, a documentarista Loveleen Tandan.
Apesar do perfil de azarão, "Quem Quer ser um Milionário?" vem acumulando prêmios, como os quatro Globos de Ouro (filme, diretor, roteiro e trilha sonora), sete Baftas (inclusive de filme e diretor), prêmios dos sindicatos americanos - como dos produtores, montadores, diretores de fotografia, roteiristas e atores (que premiaram o elenco) - e várias sociedades de críticos (como as de Nova York e Los Angeles).
O enredo gira em torno de um heroi saído da pobreza e no caminho da redenção. Ex-menino de rua em Mumbai, Jamal Malik (Dev Patel) ganhou fama em todo o país ao ser escolhido para o programa "Quem Quer ser um Milionário?". O mais popular show de perguntas da televisão local dá prêmios de vários milhões de rúpias aos vencedores.
Apesar de não ter estudo formal e de viver servindo chá numa central de telemarketing, Jamal vai acertando as respostas que, em princípio, não fazem parte de seu universo cultural, sobre poesia hindu e política internacional. E assim chega à final, que pode lhe dar nada menos de 20 milhões de rúpias.
O apresentador do programa (Anil Kapoor) desconfia dele e manda prendê-lo. Na delegacia, o rapaz é submetido a torturas, mas não admite fraude. Ele sustenta que seu conhecimento é autêntico e vai contando sua vida ao inspetor (Irrfan Khan, de "Viagem a Darjeeling").
É assim que, em flashback, o público pode conhecer as provações da vida do menino, que ficou órfão como resultado da violência étnica - ele é da minoria muçulmana - e sobreviveu como pode, ao lado do irmão, Salim (Madhur Mittal), que entrou para a vida do crime.
O tempero romântico entra na verdadeira razão de Jamal ter lutado para chegar à TV. Há tempos, ele está obcecado em reencontrar Malika (Freida Pinto), que ele conheceu menina e que sumiu nas mãos de exploradores de crianças. Sua esperança é que ela assista ao programa e ele possa, finalmente, expressar-lhe seu amor.
Sucessivos prêmios de público, como os vencidos nos festivais de Toronto, Saint Louis e Austin, mostram que o diretor inglês está alcançando uma audiência bem maior do que seus trabalhos anteriores. Agora só falta levar algum Oscar.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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