Danielle Brant, da EFE

De azarão despretensioso, mas com méritos próprios, a favorito incontestável, passando por uma polêmica nacionalista na Índia e pelo debate sobre a aproximação entre Hollywood e Bollywood, "Quem quer ser um milionário?" vem chamando a atenção onde é exibido por sua originalidade, o que o faz despontar como um forte candidato ao Oscar de Melhor Filme.

Desde que foi exibido pela primeira vez, em agosto de 2008, no Festival de Cinema de Telluride, no Colorado (Estados Unidos), até as dez indicações no Oscar, a produção britânica dirigida por Danny Boyle já conquistou pelo menos 60 prêmios, entre eles o Globo de Ouro e o Bafta.

Esta vitoriosa trajetória em um curto período de tempo acabou tornando "Quem quer ser um milionário?" um dos mais cotados a levar a principal estatueta na 81ª edição do Oscar.

Porém, com a mesma fugacidade com que vem conquistando prêmios, o longa acabou inserido em várias polêmicas, envolvendo, por exemplo, o sentimento nacionalista indiano e um suposto jogo político entre Hollywood e Bollywood, o que pode prejudicar sua candidatura.

Para o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, "Quem quer ser um milionário?" é "o filme do momento, um filme de tempo de crise, moderno, vibrante, divertido e forte", que homenageia o cinema indiano e "faz o encontro entre Hollywood e Bollywood".

A professora de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcela Amaral vai na mesma linha e destaca o fato de o filme buscar a estética das produções indianas, usando elementos como a música, a religiosidade e o contraste social, por exemplo.

No longa, o protagonista, Jamal, um jovem de 18 anos morador de uma favela de Mumbai, está prestes a responder à pergunta que pode torná-lo rico quando é preso sob a acusação de trapaça, já que as autoridades não acreditam que, com sua vivência, ele possa saber tanto sobre as questões do programa que dá título à produção, "Quem quer ser um milionário?".

Jamal, então, passa a contar a história de sua vida, das aventuras que viveu com o irmão na comunidade em que cresceu aos conflitos entre gangues e à descoberta do amor, representado pela jovem Latika.

Apesar desse pano de fundo dramático, o filme acabou, no final, despertando uma polêmica nacionalista na Índia devido ao contraste social retratado sob a ótica de um estrangeiro -Danny Boyle, um britânico que, segundo os críticos, teria um olhar colonialista em relação à Índia, ex-território britânico.

Muitos dos protestos contra a produção pegaram como mote, por exemplo, o nome do longa (em tradução ao pé da letra, "Slumdog Millionaire" seria algo como "cachorro da favela milionário"). Para a professora da UFF, essa polêmica política seria a única coisa a prejudicar o filme em sua merecida corrida pela estatueta dourada.

"A Academia pode escolher não dar o Oscar para 'Quem quer ser um milionário?' justamente por medo de perder o mercado indiano, já que há todo um lado comercial nessa aproximação de Hollywood com Bollywood", explica Marcela.

Esse é, para a professora, um dos fatores que podem tirar o Oscar de Melhor Filme da produção britânica, mas não o único. Para ela, o fato de o longa não ter indicações a Melhor Ator e Melhor Atriz "enfraquece sua candidatura".

"Porém, a história é boa, o personagem principal (Jamal) é carismático e até os clichês são usados de forma original", afirma a especialista. "Além disso, a direção de Danny Boyle, a movimentação da câmera e o próprio trabalho de decupagem são excelentes, o que torna o filme o grande favorito ao Oscar", acrescenta.

Além de disputar a estatueta dourada de Melhor Filme, o longa concorre nas categorias Diretor (Danny Boyle), Fotografia (Anthony Dod Mantle), Edição (Chris Dickens), Trilha Sonora Original (A.R. Rahman), Canção Original (com duas indicações para A.R. Rahman e Maya Arulpragasam), Mixagem de Som (Ian Tapp, Richard Pryke e Resul Pookutty), Edição de Som (Tom Sayers e Glenn Freemantle) e Roteiro Adaptado (Simon Beaufoy).

Mesmo que não conquiste o prêmio, "Quem quer ser um milionário?" já garantiu seu futuro comercial, uma vez que a série de polêmicas e particularidades envolvendo o longa seguramente deverá alavancar a venda de DVDs e produtos ligados à produção.

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