Sandro Carneiro
A edição deste ano do Oscar, que acontece amanhã em Los Angeles, será marcada por grandes novidades, que, aliadas aos segredos guardados pelos organizadores da mais importante premiação do cinema americano, só fizeram aumentar a expectativa do público, dos astros e da imprensa especializada.
O sigilo em torno das mudanças é tanto que o crítico e jornalista Rubens Ewald Filho, escalado para a fazer a cobertura da noite para um canal de TV pago do Brasil, sequer sabe quem apresentará os prêmios ou tem detalhes da cerimônia.
"Para ter uma ideia, nem na hora vou ficar sabendo o nome dos apresentadores. Vamos ter que adivinhar, porque não temos nem quem os anuncie no 'feed' internacional. Recebi o pré-roteiro e não tem praticamente nada. Só Jéssica Biel com os prêmios técnicos, que foi pré-gravado. Será uma loucura fazer a transmissão", disse em entrevista à Agência Efe.
Mesmo com o anúncio de tantas alterações, há quem ache que a cerimônia do Oscar, a maior fonte de receita da Academia e que teve sua pior audiência da história no ano passado - 32 milhões de telespectadores nos Estados Unidos - continuará entediante e sonolenta.
"Ano após ano, o público vem caindo, até porque o cinema vem passando por uma crise de roteiro e de falta de inovação. A premiação não inova, mas talvez este ano a audiência aumente um pouco por causa da posse do (presidente dos Estados Unidos, Barack) Obama e de um sentimento de nacionalismo", afirmou à Efe Marcela Amaral, professora de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para ela, chega a ser uma desvantagem realizar o Oscar na mesma noite do Carnaval carioca, pois muitas celebridades americanas vêm para a festa no Rio de Janeiro, como Silvester Stallone e Mathew Mattgomery, que já confirmaram presença nos desfiles do sambódromo.
"(O Oscar) vai competir com o Carnaval, que é uma festa vendida para o mundo inteiro, na Europa, na Ásia, na Oceania e até mesmo nos EUA. É um erro comercial competir em público com esta festa. Bons atores vêm para cá (Brasil) assisti-la", acrescentou Marcela.
Ainda segundo a professora, a Academia precisa se renovar, porque as "cerimônias têm sido longas e previsíveis demais, basicamente premiando a tradição americana".
"A modificação (na estrutura da festa) não será radical, até porque, para mudar, é preciso começar alterando a estrutura da indústria, abrindo, por exemplo, a categoria principal (melhor filme) às produções estrangeiras", acrescentou.
Ainda assim, das mudanças previstas, que refletem uma tentativa dos produtores de levantar a audiência do evento, pelo menos uma será notada de imediato por convidados e telespectadores: quebrando uma tradição de décadas, o apresentador da cerimônia não será um comediante americano, mas o ator australiano Hugh Jackman, de 40 anos.
A escolha, aparentemente equivocada, foi condenada por críticos como o editor da revista americana "TV Week", Brent Furdky, que no site da publicação disse não acreditar na capacidade do intérprete de manter a platéia e o público entretidos numa premiação que geralmente se arrasta por entre três e quatro horas.
Porém, Jackman tem como credenciais o fato de ter sido eleito pela revista "People" o homem mais sexy do mundo em 2008 - um chamariz para os espectadores adolescentes -; de ter apresentado por três anos consecutivos o Tony Awards, que premia os melhores do teatro americano, e de, por esta função, ter ganho em 2005 o Emmy de melhor apresentador de um programa de TV.
Esta, no entanto, não será a única novidade na maior festa da Meca do cinema. No começo de fevereiro, durante o tradicional almoço dos concorrentes à estatueta dourada, o presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Sid Ganis, disse à imprensa americana que este ano os produtores da cerimônia, liderados por Bill Condon e Laurence Mark, vão "arriscar, e muito".
Um dos poucos segredos já revelados sobre a noite de gala dá conta que, em busca de mais espontaneidade, foi cortado o monólogo inicial que geralmente era feito pelo apresentador. Além disso, a julgar pelas declarações de Ganis, estão previstas alterações na apresentação dos indicados e na hora dos agradecimentos.
"Suas categorias serão apresentadas de um modo totalmente diferente. Cabeças para cima! (E em seus discursos), sejam breves, calorosos e, claro, sinceros", mas "estejam alertas", advertiu.
Num artigo do último dia 12, o site do jornal "The New Tork Times" dá dicas do que está por vir. Segundo a publicação, os responsáveis pela premiação trabalham para conferir à cerimônia um clima mais intimista, festivo e descontraído, que remeta às origens do Oscar.
Para isso, o posicionamento dos assentos será rearranjado; o palco do Kodak Theater, onde acontecerá a entrega das estatuetas, vai ser remodelado, e a orquestra, que geralmente ficava num fosso entre o apresentador e os convidados, subirá para o tablado, acima do qual será instalada uma cortina com 92 mil cristais Swarovski.
As alterações no palco também permitirão novos movimentos de câmera e entradas e saídas de atores mais variadas e suaves. Além disso, para dar mais agilidade à premiação, os intermináveis clipes serão cortados, embora a noite deva ser encerrada com um filmete de pouco mais de um minuto com trechos de 12 filmes que estrearão este ano.
Se as novidades vão funcionar ou não, só a cerimônia dirá. Mas em relação à participação de Jackman como apresentador, o público brasileiro, na opinião de Ewald Filho, pode ficar tranquilo: "Ele é ótimo. Canta, dança e sabe brincar com a platéia".