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Ficha completa do filme

Cult, Drama

A Cor da Romã (1968)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
A Cor da Romã

Sergei Paradjanov (1924-1990) foi um dos cineastas mais polêmicos da antiga União Soviética, mais especificamente da Geórgia, uma de suas repúblicas. Nascido em 1924, filho de armênios, o cineasta estudou pintura e canto, viveu muitos anos em Kiev, onde começou a ter problemas com a polícia e a censura.

Na verdade ele ficou mundialmente conhecido em 1973, quando foi preso pelo governo acusado de homossexualismo e tráfico de ícones. Isso provocou uma onda de protestos no mundo todo, mas não adiantou muito, e ele continuou preso durante cinco anos. Mesmo liberado, foi impedido de trabalhar. Ele seria novamente preso em 1982, quando o regime então resolveu perdoá-lo.

O cineasta chegou a fazer mais dois filmes até sua morte por infarto em 1990. Mesmo com uma rica história de vida e ótimas obras, Paradjanov é praticamente desconhecido no Brasil. Seu trabalho em "A Cor da Romã" faz jus à denominação filme de arte.

O longa contém algumas das cenas mais marcantes e originais de todo o cinema. Paradjanov ficou famoso com "Cavalos de Fogo", considerado um dos mais belos filmes de todos os tempos do cinema soviético. A fita é uma transposição para as montanhas dos Carpátos da história de Romeu e Julieta, duas crianças de famílias inimigas, Ivan e Marika, se amam apesar de tudo.

O curioso é que a história sofre uma reviravolta ainda na primeira metade, quando Marika morre num acidente e Ivan quase enlouquece de tristeza. Mas a vida continua e ele se casa com outra mulher, Palagna, que tem um romance com o feiticeiro da vila. Neste momento, o filme ousa desafiar o moralismo soviético ao mostrar cenas de nudez.

A conclusão será trágica, já que de certa maneira Ivan está procurando uma auto destruição, na esperança de reencontrar seu amor após a morte. A fita tem um lado folclórico muito forte ao mostrar o comportamento do povo hutsul.

Mas o cineasta leva isso ainda mais adiante com sua paixão pelos grandes movimentos de camera, com travellings, ângulos bizarros e outros espetaculares que parecem impossíveis de se fazer, como a barcaça de troncos que atravessa o rio no inverno. É realmente um filme visualmente espetacular. Já "A Cor da Romã" é uma experiência mais radical.

Não narrativo, o filme é uma série de quadros, imagens e evocações de vários momentos da vida e obra do trovador armênio Sayat Nova. Toda a sua vida, desde a infância, passando pela residência leal, o convernto e até a sua morte, é mostrado na tela através de poemas seus.

Não é um filme fácil e dá para entender o motivo da ausência de mensagem política, ou seja, é um filme que tem a linguagem do sonho e sua pintura é, por vezes, quase surrealista. Basicamente, uma fita de vanguarda de um cineasta maldito.

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