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Ficha completa do filme

Drama

A Culpa é do Fidel! (2006)

Thaís Fonseca

Thaís Fonseca

Da Redação 25/12/2009
Nota: 5

Retratar um período histórico conflituoso a partir do olhar de uma criança não é exatamente uma novidade, mas ''A Culpa é do Fidel!'' foge da mesmice ao apresentar uma história muito bem amarrada e uma protagonista memorável, interpretada pela atriz mirim Nina Kervel-Bey.

Adaptação do livro italiano "Tutta Colpa di Fidel'', o filme se passa em Paris, nos anos 1970, e tem como pano de fundo o embate ideológico entre a direita e a esquerda, num período de pontos de vistas políticos extremistas. Sem querer, Anna (Nina Kervel-Bey) se vê envolvida neste turbilhão e passa quase toda a trama tentando entender as mudanças que aconteceram na família após seus pais mudarem radicalmente os costumes da casa.

O motivo é claro: após uma tragédia familiar, os pais abrem mão dos hábitos tipicamente burgueses para assumir posições socialistas e apoiar ativamente a candidatura de Salvador Allende, no Chile. O ''outro lado'', ou seja, as visões tidas como conservadoras, são representadas por outros personagens, que sempre tiveram grande influência na educação de Ana: os avós, as freiras do colégio católico onde estuda e a babá cubana, responsável pelo título. Embora Fidel Castro não tenha peso na história e seja citado uma vez ao longo do filme, vira referência da babá cubana, anti-comunista, ao explicar que a culpa das angústias de Anna é dos ''barbudos vermelhos'', que teriam ''cooptados'' seus pais.

Entre os dois pontos de vistas, a cineasta Julie Gravas, filha do cineasta politicamente engajado Constantin Costa-Gravas, não esconde sua simpatia pelo primeiro. Sua protagonista se mostra relutante no início, mas vai mudando a visão do mundo ao entrar em contato com pessoas diferentes, sobretudo as ligadas à esquerda. Um exemplo é quando fica sob os cuidados de duas novas babás, uma da Grécia e outra da China, e percebe que há outras versões para a origem do mundo além da contada pelas freiras. Seria como se, ao abrir a cabeça para culturas e teorias diferentes, Anna deixasse de aceitar respostas e pensamentos únicos.

Neste caso, mesmo que nomes famosos da História, como o do espanhol Francisco Franco de Allende, sejam citados, o filme deixa claro que as escolhas e predileções dos personagens revelam posições políticas, como o tipo de educação na escola, a maneira como encaram a nudez em casa e até como enxergam a troca de um jardim privado pelos passeios num parque público. O tom, todavia, é leve mesmo quando se aborda temas sérios, e consegue, com a ajuda das crianças da trama, manter um boa dose de humor. O maior defeito do DVD, entretanto, é a falta de extras, principalmente para um filme que conseguiu se manter por várias semanas (a informação oficial são 50) nas bilheterias brasileiras.

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