A Experiência (2001)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

Não é um filme fácil, teve momentos em que tive vontade de parar a fita. Não por não estar gostando, ao contrário, estava empolgado demais e tão envolvido que estava sofrendo pela situação e pelo desenrolar que sabia inevitável. Uma produção alemã, feita por um diretor estreante em longa, Oliver Hirschbiegel, que adaptou um romance de Mario Giordano.

Na verdade, uma alegoria sobre o comportamento humano, que perturba, incomoda, generaliza e certamente tem grande impacto. Premiado em Festivais e até indicado oficialmente ao Oscar pela Alemanha, a fita presta-se a discussões e polêmicas, principalmente por vir da terra de onde nasceu o nazismo.

Vejam só a história, um chofer de táxi, ex-jornalista (o único ator conhecido do elenco, Moritz Bleibtreu, de "Corra, Lola Corra"), aceita participar de uma experiência voluntária muito bem paga. Fica por duas semanas numa espécie de prisão, onde pode ser guarda ou prisioneiro. Selecionado como prisioneiro, a princípio se torna provocador (porque pretende vender tudo depois para um jornal de escândalos) e por isso é punido.

O que acontece é que aqueles que foram selecionados como a Ordem, a Autoridade, no momento em que vestem o uniforme, mudam de comportamento, se travestem de guardas e ficam acima do bem e do mal, a ponto de rejeitar o controle da doutora (que é a segunda em comando), com a desculpa de que tudo aquilo seria um teste.

Embora proibidos de usarem violência, cada vez vão se tornando mais frios e cruéis, chegando mesmo ao assassinato. Por isso que o filme incomoda. Talvez seja um problema colocar como chefe da experiência um médico, que tem jeito de cientista louco, mas a intenção é mostrar que para qualquer decisão há sempre vários fatores a considerar. O teorema é muito bem demonstrado, de forma bem dosada, já que o herói, o único ator conhecido, tem um romance com uma jovem que irá reaparecer durante o transcorrer da história para servir de contraponto romântico para a excessiva tensão das cenas de prisão, que vão se tornando cada vez mais violentas e descontroladas.

Fui me envolvendo tanto que assisti com certo alívio a resolução, embora tivesse preferido uma solução mais radical e menos convencional. Ou seja, eu que reclamava da violência preferia o teorema até as últimas conseqüências e sem um final que enveredasse pela banalidade da fita de ação. De qualquer forma, este é um dos filmes mais curiosos e instigantes que assisti por aqui nos últimos tempos. Não hesito em recomendá-lo para públicos exigentes.