A Gardênia Azul (1953)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 2

Depois de provar que não era comunista, Fritz Lang (1890-1976) conseguiu com a ajuda de Harry Cohn, da Columbia, a chance de dirigir este thriller, produção independente para a Warner, baseada em história de Vera Caspary, a mesma de "Laura".

Não era um projeto desenvolvido por ele nem o material oferecia muito espaço para sua delirante imaginação. Lang odiava ser comparado a Hitchcock, mas na verdade o filme é uma produção B, feita em quatro semanas, essencialmente um suspense no estilo do diretor inglês, apenas menos inspirado e com roteiro banal.

Anne Baxter (1923-85) faz uma telefonista que, após uma decepção amorosa, se embebeda ao lado de um mulherengo (Raymond Burr, que no ano seguinte faria o inesquecível vilão de um clássico de Hitchcock, "Janela Indiscreta"). Quando ele tenta estuprá-la, a moça se defende e fica inconsciente, descobrindo mais tarde que ele foi morto e que a polícia procura a misteriosa loira que o acompanhava. Com isso, a culpa e o remorso passam a torturá-la.

Para completar, um jornalista de caráter ambíguo (Conte) tenta ajudá-la. Anne está dentro do seu padrão habitual, Lang dá os toques de realismo e franqueza que o diferenciavam de outros diretores da época, a fotografia do grande Nicholas Musuraca valoriza o conjunto, a veterana Ann Sothern (1909-2001) faz com simpatia a amiga mais velha, Nat King Cole canta a música-tema e aparece rapidamente tocando no bar do título (a canção fez muito sucesso na época e é mais lembrada do que a fita).

Mas o filme nunca passa do mediano e tem uma solução pobre e decepcionante. Não era grande coisa mas fiquei feliz com a interpretação de Anne Baxter, afirmou corretamente Lang. Ainda assim, na França, foi muito elogiado por críticos (como Eric Rohmer) e também na Alemanha, pelo uso condensado de símbolos e visuais. Mais tarde também saudado pelas feministas que encontraram na fita sinais da traição, decepção e terrorismo psicológico da Era McCarthy.