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Ficha completa do filme

Drama

A Grande Ilusão (1937)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5

Um dos mais famosos filmes anti-guerra, premiado com "O Prêmio Especial do Júri" no Festival de Veneza de 1938, tendo depois feito muito sucesso no circuito de arte americano (ganhou como Melhor Filme Estrangeiro pelos críticos de Nova York). O Presidente americano Roosevelt chegou a recomendar que "todos deveriam assistir a este filme".

O famoso diretor Von Stroheim teve aqui o melhor papel de sua carreira, falando alemão, inglês e francês (ele seria depois o mordomo de "Crepúsculo dos Deuses", alternando a carreira entre França e EUA), graças à admiração do diretor Renoir, que foi aumentando seu personagem (inclusive os problemas com os acessórios para seus ferimentos de guerra) e acrescentando toques (os gerânios que aparecem em sua janela, von Stroheim usou essa imagem em suas próprias fitas como símbolo de esperança e vida).

Os nazistas não gostaram da fita e o Ministro da Propaganda Goebbels chamou o comandante do filme de "caricatura" e só passou por lá uma versão com cortes (enquanto Mussolini baniu a fita na Itália). Para complicar, quando ela foi relançada em 1946, alguns críticos a consideraram Pró-Alemã e anti-semita. Só quando foi descoberto um negativo escondido depois da Guerra é que salvou o filme que parecia perdido.

O fato é que a maior parte dos políticos odiou a fita, o que acaba sendo a prova maior de sua importância. Jean Gabin (1904-76), astro maior do cinema francês, queiria trabalhar em Hollywood com a invasão nazista de sua pátria, mas largaria tudo para se engajar no Exército de Libertaçãode De Gaulle.

Num caso inédito, a fita chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Filme. A mais importante crítica americana, Pauline Kael, o considerava "uma obra-prima". Houve muitos e bons filmes contra a Guerra ("Glória Feita de Sangue" de Kubrick, "Sem Novidade no Front", de Lewis Milestone, entre eles), mas sem dúvida este é o mais famoso e o que teve maior repercussão. Principalmente por causa do momento em que foi realizado, às vésperas da Segunda Guerra Mundial e num instante em que as forças de Hitler já estavam em plena expansão.

Embora os esforços de Renoir e seu roteirista habitual Charles Spaak (tio da atriz Catherine Spaak, estrela nos anos 60) tenham sido aparentemente inúteis para impedir um segundo conflito mundial, o filme conserva sua atualidade apesar de certas situações e diálogos tenham virado clichês ("Guerra é guerra", "Morrer é uma solução").

Faz questão de deixar muito claro, as distinções de classe e o fato de que com o tempo tudo isso iria mudar. Surge a amizade entre os dois oficiais de países inimigos porque ambos são de origem aristocrática, de uma classe superior, que não se mistura com os plebeus (entre eles, um judeu). Há uma citação de humor negro sobre as doenças dos ricos (sífilis, câncer, gôta) e as dos pobres (estômago, intestinos) e a certeza de que com o tempo elas também iriam se democratizar.

A vida no campo de prisioneiros pode nos parecer confortável demais para quem viu o que passaram os ingleses e aliados nas mãos dos japoneses na Segunda Guerra (e tampouco se compara com o bom humor de fitas como "Inferno numero 17" e "Fugindo do Inferno"). O tom é mais solene, numa época onde se acreditava em cavalheirismo, respeito às normas (avisar antes de atirar, pedir desculpas depois).

O título obviamente se refere à ilusão de que não haveria mais guerras, diz Renoir: "A história é real, foi me contada por um amigo na Guerra, particularmente o personagem de Pinsard (Gabin) que era piloto de combate. Ele salvou minha vida muitas vezes e ele também foi abatido várias vezes. Sua fuga é a base de toda a história".

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