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Ficha completa do filme

Guerra, Drama

A Lista de Schindler (1993)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
A Lista de Schindler

A identidade judia de Spielberg só parece ter sido recuperada quando finalmente resolveu assumir sua origem e fez este magnífico filme. A partir daí, criou a Fundação Shoah (que grava para a posteridade os depoimentos dos ainda vivos sobreviventes do Holocausto). Spielberg tem direito a ter suas manias e uma delas é não gravar comentários em áudio auxiliar, acha que isso é chato e distrai a atenção do espectador que deveria estar vendo o filme e não o ouvindo.

Por isso esta edição especial em disco duplo limita-se a ter dois Making Ofs, um deles sobre a Fundação Shoah e outro com depoimentos autênticos de pessoas que estiveram na Lista (ambos legendados em português e inglês).

Mas, em sua carreira, "A Lista de Schindler" é peça chave. E a Academia não errou em premiá-lo em 1994. Foi vencedor de sete Oscars: Melhor Filme, Direção, Fotografia, Roteiro, Trilha Musical, Montagem, Direção de Arte. E ainda indicado para Ator (Liam Neeson), Coadjuvante (Ralph Fiennes), Maquiagem, Figurino, Som.

Realizado em preto e branco (pelas mesmas razões porque Hitchcock não quis fazer "Psicose" a cores, pela temática seria muito chocante), o filme conta sua história com muita dignidade, sem concessões, sem melodrama ou sentimentalismo. Uma história real. É verdade que muita gente critica o alemão Oskar Schindler por ter explorado o trabalho judeu durante a Guerra. E também era uma figura cheia de defeitos, bebia, jogava, traia a esposa.

Mas ninguém pode negar os esforços que ele fez para salvar as vidas daqueles a que chamava de seus judeus. Tudo isso emociona muito, particularmente na seqüência final, a cores, quando mostram imagens reais dos sobreviventes. Parece claro que Spielberg assistiu alguns filmes europeus sobre a época (em particular, "A Passageira", de Munk), para se inspirar no visual, já com câmera na mão, como se fosse um cine jornal da época.

E lendo a biografia que Sean Ferrer fez de sua mãe Audrey Hepburn, é que confirmei que aquela imagem da menina de chapéu vermelho, a única imagem colorida do filme, foi lhe sugerida por Audrey (a única outra imagem são das velas da cerimônia em família). Foi ela que teve aquela sensação quando era criança na Holanda e passou dificuldades durante a ocupação nazista (Audrey e Spielberg trabalharam juntos no último filme dela, "Always"/ "Além da Eternidade", 1989).

Acertou também na escalação do elenco. Liam Neeson não era na época um ator consagrado (e na verdade, não cresceu como se esperava). Ben Kingsley tem outra grande interpretação num tipo de composição. Mas a grande revelação foi mesmo do inglês, até então pouco conhecido, Ralph Fiennes. Como o oficial nazista, ele deixou até crescer uma barriguinha (engordou 13 quilos), fazendo com toda a frieza um personagem sem escrúpulos. Mas que mesmo assim se envolve com a prisioneira judia (outra novata Embeth Davidtz, que continua fazendo carreira em fitas como "O Diário de Bridget Jones", "13 Fantasmas", "O Clube do Imperador").

Rodado na Polônia em locações autênticas (diz a lenda que enquanto rodava esta fita checava a montagem de "Jurassic II" pela Internet ou telefone), o filme tem uma notável trilha musical de John Williams, com solos de violino de cortar o coração pelo mestre Itzhak Perlman com arranjo de Jascha Heifetz. Tem 184 minutos, mas você não vê o tempo passar.

Por outro lado, depois deste não vai querer ver outro filme sobre o holocausto. E nem precisa. Spielberg conseguiu fazer sua obra-prima justamente no momento em que virou adulto, fez as pazes com suas raízes e seus fantasmas.

Saiu também aqui no Brasil, uma edição limitada de colecionador, que traz um livro (todo em inglês) de 80 páginas com fotografias, comentários e prefácio de Steven Spielberg, CD com a trilha sonora, slide com uma cena do filme e certificado de autenticidade.

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