UOL Entretenimento Cinema

Ficha completa do filme

Policial

A Marca da Maldade (1958)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
A Marca da Maldade

Esta é a versão remontada em 1999, segundo as observações de Welles (mas não traz o making of exibido pelo Telecine, porque ele foi proibido pela herdeira do diretor, Rebecca Welles). Foi Charlton Heston quem sugeriu a Universal que Orson Welles assumisse a direção da fita. O estúdio teve medo, mas Welles cumpriu o esquema e fez a fita no prazo certo e dentro do orçamento previsto. Mesmo assim, o estúdio mexeu no filme, acrescentando uma trilha musical de Henry Mancini, algumas cenas com Janet e Charlton dirigidas por Harry Keller e letreiros na formidável seqüência inicial da fita.

Participam do elenco vários amigos do diretor, alguns até não creditados (como Mercedes McCambridge, que faz uma lésbica da gangue, Keenan Wynn e Joseph Cotten, sem esquecer Zsa Zsa, que é dona de bordel e Marlene Dietrich que tem participação marcante como a cigana amiga de Welles, usando uma peruca velha de Elizabeth Taylor. Ela sempre declarou que o papel foi o melhor que fez em toda sua carreira). As locações, quase todas noturnas, foram feitas na cidade de Venice, perto de Los Angeles.

Durante a filmagem, Welles, que tinha apenas 41 anos, usou maquiagem pesada para compor seu personagem e sofreu acidente quando caiu no rio e se machucou no braço. Mais grave foi o caso de Janet Leigh, que havia quebrado o braço esquerdo durante um programa de TV e passou todo o filme escondendo isso de alguma maneira. O papel de Dennis Weaver como empregado do motel foi improvisado por instigação de Heston.

Apesar dos problemas, foi o filme em Hollywood que Welles conseguiu realizar mais perto de sua concepção desde "Cidadão Kane". É considerado o melhor e mais famoso filme B do mundo, a única vez em que Welles teve relativa liberdade de ação em Hollywood como diretor, desde os tempos da RKO e de "Cidadão Kane".

A verdade é que as mudanças não fazem assim tanta diferença (não foram encontradas cenas adicionais). O filme, nas duas formas, se conserva da mesma maneira. A versão do diretor talvez seja um pouco mais direta e clara (mas não se pode dizer que a trilha de Mancini era ruim). Ainda continua brilhante o plano inicial, um longo travelling, que envolve cenas e ações múltiplas, o uso da fotografia claro-escuro, quase expressionista, os cortes meio abruptos e o uso de câmera na mão (mas não esqueça que a fita foi feita com orçamento muito baixo).

Se há um ponto mais fraco, é justamente o próprio Welles como ator, envelhecido com uma maquiagem pesada e inconvincente. Tampouco se pode dizer que Charlton Heston seja um autêntico policial mexicano (Ben-Hur de bigode), mas a fita é conduzida com tal ritmo, com tanto clima, que se perdoam os clichês (o maior deles: como em toda fita de terror, escondem uma pessoa em perigo num lugar isolado, justamente num motel onde vai estar ainda mais vulnerável). Janet Leigh é uma presença luminosa. Mas é preciso sempre ter em mente que é uma fitinha policial, que o talento de Welles elevou. Só que não exatamente uma grande obra-prima do cinema.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo