A Morte e a Donzela (1994)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

O diretor Roman Polanski estava em uma fase não especialmente bem sucedida de sua carreira quando rodou essa adaptação da peça famosa do chileno Ariel Dorfman.

Vinha dos fracassos de "Piratas" ("Pirates", 1986) e "Busca Frenética" ("Frantic", 1988), que fez para sua esposa pouco talentosa Emmanuelle Seigner, e logo depois faria o que é talvez seu pior filme, "O Último Portal" ("The Ninth Gate", 1999). Foi um acerto, portanto, apostar em um bom e consagrado texto, onde não havia muito como errar.

A peça, que foi montada na Broadway com muito sucesso e elenco all-star (Glenn Close, Gene Hackman e Richard Dreyfuss) e também no Brasil (com Xuxa Lopes dirigida por José Wilker), não é especialmente cinematográfica nem Polanski é talhado para o cinema político.

Mas tem um elemento constante nos filmes dele, um personagem que, sob pressão, acaba chegando perto da loucura (ou enlouquecendo mesmo, depende do ponto de vista).

Era, porém, um texto que dependia de grandes atuações, e foi uma pena a versão cinematográfica não contar com um elenco superior como a da montagem teatral americana. Sigourney Weaver e Stuart Wilson, que fazem o casal, não passam do eficiente.

Apenas Ben Kingsley (que se juntou novamente a Polanski em 2005 para interpretar Fagin em seu "Oliver Twist"), o pretenso torturador, tem momentos de brilho em uma atuação sutil e controlada, em especial no virtuosístico longo monólogo final.

Fica faltando então ao conjunto um fogo maior, cuja ausência acaba até diluindo a tragédia inerente à história, reduzindo-a a um mero thriller político. Que, naturalmente, tem impacto maior em audiências como a nossa, que vivenciou coisas semelhantes.

A direção sóbria de Polanski não atrapalha, mas torna este um de seus filmes menos pessoais e marcantes. Ainda que bem realizado e correto.