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Ficha completa do filme

Drama

A Paixão de Ana (1969)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 03/08/2009
Nota: 5
A Paixão de Ana

Nunca se deu muita atenção a este filme que parecia menor dentro da obra do grande Bergman (1918-87) mas que cresce muito numa revisão. É acompanhado por um ótimo documentário (feito pela produtora que é a MGM- United) que tem depoimentos de Bergman (em material antigo) e de todos os atores envolvidos (todos amigos e habituais atores dos filmes do diretor, sendo que ambas atrizes são ex-mulheres dele).

Liv, por exemplo, conta que a época das filmagens foi difícil porque o casamento estava acabando e chama a atenção para o título original, que é ?Uma Paixão? e não ?Ana? apenas. E que isso dá outro sentido. Um crítico demonstra que o filme narra de maneira excepcional a desintegração de uma pessoa, talvez a do próprio Bergman, inclusive em imagens (é incrível a cena final, gravada em lente zoom, quando a imagem se dissolve em grãos, mostrando o herói caído no show, perdido).

É impressionante como ele era capaz de se renovar fazendo o que é ainda hoje um filme de arte de vanguarda e pesquisa de linguagem. A idéia de colocar os atores comentando sobre seus personagens (não para a câmera mas para alguém num set de filmagem, quebrando estranhamente a empatia da narração, meio Brecht). Depois foi um dos raros filmes dele em que houve cenas improvisadas (a do jantar) quando normalmente tudo é previsto inteiramente no roteiro. Não espere identificação com os personagens.

Sydow faz o protagonista frio e incapaz de passar amor, que tem passado tenebroso e se envolve com Ana, que é uma viúva com segredos (a seqüência em grande close em que Liv com seus incríveis olhos azuis, conta o que se passou no trágico acidente).

Mesmo assim a trai com a vizinha que sofre de insônia e carência (Bibi). Outra trama importante é do tipo misterioso que não gosta de animais, mata gado, tenta enforcar cachorro e liquida ovelhas. Só que eles pegam a pessoa errada. Bergman reflete sobre um mundo em caos (em determinada cena eles vêem numa teve com má recepção, a famosa cena no Vietnã quando fuzilam diante da câmera um rebelde).

É impossível fugir da violência do mundo, ou seja a desintegração do mundo acompanha a psicológica do personagem. Fala da carência de afeto mas não deixa de questionar mais uma vez a existência de um ente superior. Há ainda uma curiosa seqüência de pesadelo de Liv, que é uma espécie de epílogo de uma cena que ela viveu no filme anterior, Vergonha. A Fotografia de Sven Nykvist é como sempre notável. apesar de ser apenas o segundo filme do diretor a cores. Ganhou melhor diretor pelo National society of Critics dos EUA. É o ultimo filme da trilogia toda rodada na Ilha de Faro, onde Bergman viveu e morreu.

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