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Ficha completa do filme

Drama

A Queda! As Últimas Horas de Hitler (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
A Queda! As Últimas Horas de Hitler

Há pouco tempo atrás foi exibido um documentário em nosso circuito de arte, chamado "Eu Fui Secretária de Hitler" (2002), que consistia basicamente em uma série de entrevistas com a recém-descoberta Trauld Junge, uma mulher da Baviera (ou Bavária) que serviu como secretária do ditador Adolph Hitler nos últimos tempos de seu governo, já na decadência e fim da Guerra.

O filme não era mais do que uma sucessão de depoimentos (um deles encerra este filme), mas por ser árido foi muito pouco assistido. Foi ele que deu origem a esta adaptação em superprodução, que acabou sendo grande sucesso de bilheteria na Alemanha e finalista do Oscar de Filme Estrangeiro.

Não há dúvida que é uma história importante, já que pela primeira vez temos detalhes dos últimos dias de Hitler e do Nazismo, porque Trauld estava no Bunker e foi testemunha de tudo. Por outro lado, é visível que ela fez tudo para não se comprometer, dizendo que era ingênua e confusa (o que soa altamente inconvincente) e provavelmente inventando detalhes que não lhe sujassem as mãos.

Além disso, temos que acreditar piamente no que ela conta, já que não há outras testemunhas (embora nos pontos básicos ela não fuja do que sempre se contou). Também faz pensar na incompetência dos pesquisadores que levaram 50 anos para encontrá-la (e pouco antes de sua morte em 2002).

O lado ruim do projeto é que ele foi entregue às mãos de um diretor medíocre, que não sabe escolher ou dirigir atores (alguns deles estão péssimos, a maioria compromete e somente o veterano Bruno Ganz, como Hitler, é que faz o papel com dignidade, sem cair em caricaturas). Faz um filme com estética de telefilme de tevê européia. O mais estranho é que antes ele tinha feito uma fita interessante chamada "A Experiência".

De qualquer forma, o filme é banal como cinema (até mesmo como narrativa, já que prossegue por quase meia hora depois da morte de Hitler, mas nem sempre se preocupando em mostrar apenas o que a secretária viu e ouviu). Mas muito interessante (e mesmo importante) como reprodução da história.

Não há qualquer lógica em boatos de que daria uma visão humana de Hitler, portanto amenizando seus crimes. Ao contrário, ele é mostrado como um velho de 50 e poucos anos, decadente, sofrendo de Mal de Parkinson, dado a ataques histéricos, completamente cruel e sem piedade (dizendo que o povo alemão deveria pagar por ter perdido a Guerra), tendo delírios e sendo incapaz de enfrentar os fatos e a derrota. E principalmente insistindo em se matar e mandar todos os seus auxiliares próximos fazerem o mesmo, sob pena de serem considerados traidores.

Basicamente o filme é um estudo sobre o fanatismo, principalmente na figura da Sra. Goebbels (feita por péssima atriz) que mata friamente todos os seus filhos, mas tem um ataque histérico pedindo para o ditador fugir. Fanatismo que se reflete nos cidadãos que estavam na rua matando a esmo os que consideram traidores e desertores, mesmo quando o exército russo estava a poucos metros da cidade. E em muitos oficiais que preferem morrer porque fizeram um juramento de obedecer a Hitler.

Uma das frases mais fortes do filme, além do orgulho de Hitler em ter matado tantos judeus, é o fato de que os nazistas chegaram ao poder através de eleições, de meios legítimos e não através de um golpe de Estado. Ou seja, já que o povo alemão escolheu esse tipo de governo, agora teriam que pagar por isso.

A figura de Hitler que vemos é um sujeito patético, louco (mas não histérico), iludido e amado fanaticamente por seus asseclas, que aceitam tudo sem discussão ou questionamento, talvez seja isso que mais impressione, ninguém ousa questioná-lo, enfrentá-lo, desmascará-lo. É uma ilusão coletiva que nos deixa pensando em outros fanatismos atuais, seja em seitas religiosas à la Jim Jones ou no caso de mulçumanos fundamentalistas.

Como o ser humano é frágil e pode cair em situações como essa. E com freqüência assustadora. A Queda!, que por vezes usa o sub-título de "As Últimas Horas de Hitler", é uma notável e imprescindível lição de história.

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