A Regra do Jogo (1939)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 4

Jean Renoir (1894-1979) é um cineasta dos cineastas, idolatrado pelos franceses e por diretores do mundo todo, com seus filmes sempre presentes nas listas de melhores de todos os tempos. Mas como costuma acontecer com as lendas, há um elemento de superestima aí, o que fica claro neste lendário filme, agora disponível em excelente versão remasterizada.

Quase desaparecido (foi banido pelo governo francês apenas um mês depois de lançado por sua crítica social ser ruim para o moral da nação em guerra - só reconstituído em 1956 a partir de várias cópias disponíveis; Renoir diz que apenas uma pequena cena se perdeu), tem uma câmera fluída e elegante (talvez influência do senso estético de seu pai, o pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir) e um humanismo muito grande na abordagem dos personagens; mas os neófitos que esperarem por uma obra-prima de tirar o fôlego também perceberão um ritmo um pouco lento, uma direção de atores irregular (o próprio Renoir faz um dos papéis centrais) e momentos de comédia dignos das chanchadas.

A história é inspirada em "O Casamento de Fígaro", de Beaumarchais, e Renoir ambicionava fazer "uma descrição exata dos burgueses de nossa época", mas diante da rejeição do público, ele a apresenta como "um divertimento e não como uma crítica social".

Essa famosa crítica do filme também não funciona tão bem hoje, a idéia básica sendo a diferença de estilo de vida e comportamento entre patrões e empregados e a luta de classes latente aí, e poderá até passar desapercebida. O diretor Robert Altman fez uma citação disfarçada no filme em 2001, "Assassinato em Gosford Park". De qualquer forma, pinta um retrato de costumes, sem esperança, cínico e até cruel. E com uma moral: "A vida e o amor são um jogo do qual não se deve impunemente transgredir as regras".

Ainda assim, me parece um filme superestimado. O famoso fotógrafo francês Henri-Cartier Bresson aparece num pequeno papel como cozinheiro.