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Ficha completa do filme

Drama

A Vida como Ela é (1996)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4
A Vida como Ela é

A televisão acaba jogando tudo na vala comum. Explico: passou uma vez, quem viu, ótimo (ou azar) e depois fica esquecido ou, no máximo, volta numa reprise em geral em horário ingrato numa TV por assinatura afiliada. Foi o caso da série "A Vida como Ela é", que a Rede Globo exibiu no "Fantástico", em 1996 (não imaginava que fosse tanto tempo, as pessoas não parecem que envelheceram desde então). Eram filmes curtos, inspirados em crônicas/contos de Nelson Rodrigues, publicados na imprensa ("Última Hora" do Rio) cotidiana, e que tinham dois charmes maiores: eram feitos em película (35 mm) e muito ousadas, com freqüente nudez.

A edição tem suas falhas desde algumas bobas (a etiqueta dos DVDs troca os extras, ao contrário do que diz, o making of, "Fazendo a Vida", de 23 min., apresentado por Daniel Filho está no primeiro disco e no segundo tem a entrevista de Nelson feita pelo amigo Oto Lara Resende, 30 min.). Até outras menos desculpáveis (o som tem uma variação terrível principalmente na parte da narração feita por José Wilker, aliás todo o som não é particularmente bom).

No entanto, e aí vem a grande coisa, esta coletânea de 40 curtas é a melhor adaptação já feita para o cinema de uma obra de Nelson. Tão boa ou melhor do que as duas de Arnaldo Jabor ("Toda Nudez será Castigada", "O Casamento"), aliás de quem há uma crônica no folheto interno. Pessoalmente prefiro esta. Daniel acertou em tudo (ele dirigiu quase todos os episódios, a assistente Denise Saraceni assina quatro deles mas não se nota a diferença, já que tudo parecia entrosado e definido).

Além da excelente fotografia em película (que ainda faz diferença e era ousadíssimo na época na Globo, tanto que acabaram desistindo dela por causa de seu custo, ou seja é cinema mesmo), com luz de Edgar Moura (até meio film noir), tem uma trilha musical genial (em cima de clássicos de Bossa Nova, basta dizer que a música do menu é "Oba lalá" com a minha musa Sylvinha Telles).

Tudo tem atmosfera dos anos 50, mas sem ficar carregado demais, datado ou com a figura caricaturizada (como no filme "Longe do Paraíso"/ "Far from Heaven"). Também utiliza basicamente uma companhia de repertório sem falhas. Há ocasionais atores convidados (que lhe dão um sabor especial), mas basicamente uma dúzia de bons atores se revezando nos personagens e tramas, todos com resultados bons. Até mesmo atores com quem se tem má vontade (Guilherme Fontes).

Por questões econômicas, alguns detalhes se cruzam (quando precisam de um bordel ou uma casa ou escritório ele sempre é o mesmo, para ficar mais barato - tudo foi rodado fora de seqüência como em cinema - mas acabou dando ao resultado uma unidade legal). Há alguns problemas com a repetição da temática, nem tanto de que a mulher gosta de apanhar, mas com relação ao fato de repisar no tema da infidelidade masculina ou feminina. Cansa um pouco.

Mas, o roteiro de Euclides Marinho é impecável no uso de expressões de época (como "batata") sem cair novamente em caricaturas, tudo muito fluente, natural, sem cara de telenovela de rotina.

O elenco é uniforme (a única falha para ser chato é terem escalado Maitê Proença que não é conhecida por sua versatilidade para fazer uma velha feia no episódio "Teresinha"). Mas, em geral, ela está bem (como noutra versão mais fiel de "A Dama do Lotação"). Eu recomendo, vale a pena ver, vai ajudar a entender o porquê Nelson Rodrigues era considerado, com justiça, nosso maior autor teatral. Relação dos episódios: Disco 1: "O Monstro", "Divina Comédia", "Quem Morre Descansa", "O Grande Viúvo", "Gagá", "O Homem Fiel", "O Decote", "A Grande Pequena", "Casal de três", "O Anjo", "Gastrite", "Para sempre Desconhecido", "Uma Senhora Honesta", "Covardia", "Fruto do Amor", "Marido Fiel", "Viúva Alegre", "Cheque do Amor", "O Pediatra", "O Único Beijo". Disco 2: "Delicado", "Vontade de Amar", "A Esbofeteada", "A Futura Sogra", "O Homem que não conhecia o Amor", "Fome de Beijos", "Sem Caráter", "Sacrilégio", "Pai por Dinheiro", "Teresinha", "Curioso", "Amor Mercenário", "Desprezada", "Boa Menina", "Mártir em Casa e na Rua", "Dama do Lotação", "Enciumada", "Pacto de Amor e Morte", "A Grande Mulher". Dirigidos por Denise ("Fruto do Amor", "Delicado", "Pai por Dinheiro", "Mártir em Casa", "O Padrinho").

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