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Ficha completa do filme

Drama

Além da Vida (2010)

Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Colaboração para o UOL 20/05/2011
Nota: 5

Após o belo e insuficiente "Invictus", no qual a nobreza do tema parecia invalidar qualquer crítica à sua estrutura irregular, o veterano Clint Eastwood retorna à melhor forma com "Além da Vida". E quando um cineasta da estatura de Eastwood está em sua melhor forma, fica difícil não se emocionar bastante.

À maneira de Alain Resnais em seu longa de 2006, "Medos Privados em Lugares Públicos", Eastwood consegue a fenomenal junção de histórias paralelas de maneira natural, sem que o encontro entre os três personagens que acompanhamos durante todo o filme pareça artificial ou forçado.

Talvez isto aconteça porque Eastwood, habilmente, evita a armadilha da sonata visual, que faz com que, à medida que o tempo passe, o tempo para cada história encurte paralelamente à aproximação dos personagens. Pelo contrário: temos sempre tempo o suficiente para nos envolvermos com os problemas e frustrações de cada um, tendo no personagem de Matt Damon uma base mais sólida.

Não é por acaso que esse personagem more nos Estados Unidos. Também não é à toa que ele seja, dos três, o que desde cedo desenvolveu uma espécie de capacidade de conexão com espíritos, tendo, consequentemente, sofrido com isso desde muito tempo antes de o apanharmos na história.

Tal história, aliás, continha dentro de si diversas armadilhas. Começa com a apresentadora francesa que está de férias com o namorado em uma praia paradisíaca da Ásia. Ela sobrevive ao famoso e trágico tsunami de 2004. Mas no curto período no qual fica entre a vida e a morte, pode se conectar brevemente a alguns espíritos, numa espécie de plano intermediário. Esse evento muda sua maneira de enxergar as coisas terrenas.

Após uns dez minutos, conhecemos o personagem de Matt Damon. Sabemos que ele não gosta de se conectar com os mortos, mas o irmão insiste para ele fazer só mais uma vez. E assim segue sua vida, trabalhando em uma fábrica e recebendo pedidos de "só mais uma vez".

Os pequenos irmãos ingleses, Marcus e Jason, são os últimos a aparecer. Eles cuidam da mãe, desempregada e bêbada - personagem que em momento algum é julgado no filme. Quando Jason morre num acidente, Marcus passa a procurar por alguém que ajude sua comunicação com ele. Para isso recorre a médiuns, encontrando muitos picaretas pelo caminho. Esse menino inglês será naturalmente uma peça importante dentro da estrutura narrativa do filme.

O que impressiona é a delicadeza na apresentação dos personagens e eventos. É coisa de mestre. Não há desvios espiritualistas, nem sentimentalismo invasivo. Os encontros se dão naturalmente, sem que o diretor chame atenção para eles. Tudo é orgânico, harmonioso, justo. Eastwood se interessa pelas coisas terrenas, pelos vivos. Fez um filme espetacular sobre o amor à vida e às pessoas.

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