Aventura

Alexandre (2004)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 2

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Em geral, a chamada "versão do diretor" traz o filme numa montagem mais longa, conforme anterioramente o diretor quis e o estúdio não concordou (duas exceções: "Blade Runner" e "Gosto de Sangue", que são mais curtos).

Mas esta versão de "Alexandre" é a primeira em que um filme blockbuster, de grande orçamento, sai em DVD com cenas diferentes, ainda que a duração do filme seja a mesma. Trata-se de uma tentativa da Warner em salvar o filme, que custou US$ 150 milhões e rendeu só US$ 34 milhões em bilheteria, já que reduziu e quase cortou todas as cenas que mostravam a bissexualidade de Alexandre (que teria sido a causa do fracasso do filme nos cinemas americanos).

O fato de Stone assinar essa versão é que parece comprometedor, admitindo que sua montagem original teria sido um erro (essa edição não traz a versão dos cinemas, mas outra montagem com mais ação e menos cenas gays).

O próprio diretor explica tudo: "Hollywood nos transformou em prostitutas. Ainda acho que é um belo filme, mas Alexandre merecia mais do que lhe dei. O filme é longo demais e não conta bem a história dele e exagera em mostrar o lado gay do herói grego. Houve uma resistência clara em relação ao homossexualismo. Virou a manchete do filme, Alexandre, o Gay. Foi discriminação e o filme nem estreou no interior dos EUA. Os jovens não se sentiram confortável com homens se abraçando ou um rei que chorava e expressava ternura". Ou seja, ele sacrificou sua visão em nome do comércio.

O filme foi planejado por 15 anos e feito às pressas para concorrer com outro projeto parecido de Baz Luhrman ("Moulin Rouge"), com Leonardo DiCaprio, que acabou sendo adiado e agora aparentemente arquivado para sempre.

Depois de não ter conseguido escalar os atores Tom Cruise e Heath Ledger, Stone aceitou colocar no papel central o irlandês Colin Farrell, que tem fama de bad boy e não tem fôlego, peso ou talento para segurar um filme desses. E cometeram erros piores: Farrell é moreno, de sobrancelhas espessas e aparece com o cabelo pintado de loiro; ficou ridículo e falso. Igualmente falso é Angelina Jolie (lindíssima novamente) como mãe dele, já que os dois têm praticamente a mesma idade.

Realmente o filme é longo demais (perto de três horas) e comete erros de estrutura. Depois de uma hora, o herói já conquistou o mundo. Christopher Plummer aparece rapidamente como o professor Aristóteles, e Val Kilmer não convence com um olho vazado como Felipe da Macedônia, embora seja uma idéia interessante deixar para contar como ele foi assassinado já no final do filme.

Mas o interessante é vermos alguém conquistar o mundo, depois de ter derrotado o rei da Pérsia, e começar a decair, o que parece inevitável e interminável, virando uma sucessão de problemas e brigas entre os generais dele.

Todo o filme era construído como uma história de amor entre Alexandre e Hephaistion (Jared Leto), seu amigo de infância, confidente e companheiro de todas as horas. Acontece que Alexandre resolve se casar com uma jovem árabe de tribo sem importância e que não lhe dá herdeiros (Rosário Dawson, num papel mal desenvolvido) e, mesmo assim, também se liga a um servente afeminado.

Ou seja, quando trai o amor de sua vida, tudo começa a decair, se corromper e finalmente se destrói. Até que como aula de História o filme é interessante, bastante bem pesquisado e, é claro, mais bem realizado do que "Tróia". Só que é mais violento (e suas duas únicas cenas de batalha são espetaculares).

Apesar de tantos problemas, o filme conta com excelente produção e direção de arte (fiquei especialmente impressionado com a reconstrução da Babilônia e seus jardins suspensos).

Edição dupla em DVD. No disco 1 há trailer e comentários do diretor e do historiador Robin Lane Fox. No disco 2 há os "featurettes" "Nos Bastidores de Alexandre", "Ressuscitando Alexandre", "Alex, o Bom e o Perfeito São inimigos" e "A Morte de Alexandre".