Apocalipse Now Redux (1979)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 5

Se a primeira versão de "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola, já era boa, esta revisão ampliada é uma obra-prima. Apesar de sua longa-metragem, 197 minutos, 47 a mais que o original, o filme parece mais curto, mais satisfatório, agora sim irretocável.

O mais extraordinário é que tudo o que está na tela já havia sido filmado na época (não houve cenas adicionais refeitas), foi apenas uma questão de ir resgatá-las no arquivo. Não como caça-níqueis, como tem sido com muitas edições em DVD, com a desculpa de completar efeitos especiais. Mas porque o tempo passou e hoje em dia as pessoas estão mais dispostas a aceitar um filme mais profundo e sério sobre o Vietnã.

Na época fiz várias restrições ao filme, a maioria delas dizendo que na segunda parte a história se perdia um pouco (agora com cenas restauradas, fica mais claro o mergulho do personagem de Martin Sheen na loucura). Mas é preciso levar sempre em conta que vimos "Apocalypse" na época em péssimas condições, as projeções eram ruins, as cópias feitas no Brasil de qualquer jeito, ou seja, tecnicamente melhoramos muito (também como o som) e agora a fita será vista como sempre deveria ter acontecido na estréia original.

O fato é que tudo melhorou. A fotografia de Vittorio Storaro é absolutamente esplêndida (e dá um show na seqüência inédita da plantação dos franceses), Marlon Brando aparece agora numa cena inédita (onde discute improvisando sobre notícias que a imprensa dava sobre a guerra falando besteiras) e nos parece ainda carismático e até bonito (alguém lembra que naquela época todo mundo ficou chocado por vê-lo gordo e envelhecido? Pois é, agora ele ficou tão mais obeso).

Há uma seqüência inédita onde aparecem as garotas da Playboy que ficaram retidas num acampamento por causa das chuvas, e acabam transando com alguns do pelotão (um momento muito humano e até meio patético, que não foi completado porque parte da cena não chegou a ser rodada). Também vemos melhor e de forma mais completa a ação do Oficial Robert Duvall (o que o deixa menos caricatural) e vários pequenos detalhes, que tornam o filme sempre mais humano, mais aprofundado.

A seqüência dos fazendeiros franceses que ficaram para trás e agora lutam por suas terras (eles realmente parecem fantasmagóricos e na cena os personagens ficam meio fantasmas, o que é muito interessante). É um momento longo, mas o único onde se fala dos precedentes históricos da Guerra, na terra antes conhecida como Indochina e também onde há uma cena de amor e ternura com Aurore Clément.

Embora tenha gente que ache que essa parte interrompa um pouco o fluxo da história , eu discordo. Para mim ela dá substância ao que veio antes e depois, é quase um interlúdio para depois suceder o desenlace. Ou seja, eu realmente admiro o resultado do filme agora.

Com certeza hoje em dia Coppola já não tem a mesma vitalidade e não seria capaz de fazer uma obra semelhante, com tanta ambição e ressonância. Ele já declarou que esta é a versão definitiva, que a anterior não existe mais (se alguém tem a cópia antiga que a guarde porque será histórica). Curiosidade: o filme se chamou originalmente em nossos cinemas "Apocalipse", às vezes grafado com i às vezes com y. E quando passou nas salas, esta versão foi enorme fracasso, ninguém quis ver.