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Ficha completa do filme

Comédia, Drama

As Confissões de Schmidt (2002)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
As Confissões de Schmidt

Ninguém duvida que Jack Nicholson é o melhor ator de sua geração, um verdadeiro monstro sagrado, que merece os três Oscars que já tem e um recorde de indicações masculinas (12). Pois Jack está espetacular neste filme dirigido por Alexander Payne ("Eleição", "Ruth em Questão").

Para se ter idéia do carisma dele, na primeira cena, Jack aparece com o rosto impassível sentado numa sala, sem fazer nada. E o público já começa a rir. Não importa que o espectador seja difícil, arredio ou antipático. É irresistível. Ninguém tem como fugir deste sujeito que é o mais carismático ator de sua geração (acho que ficou ainda melhor com a idade).

Nicholson está em plena forma nesta fita que resulta engraçada, divertida, humana, inteligente (apesar de quase ficar babaca no final, quando beira à pieguice). O que é impressionante é que ele conseguiu deixar todos os seus maneirismos, a sobrancelha levantada, o sorriso diabólico, o jeito malandro. É o momento mais sóbrio de sua carreira e dos mais brilhantes. Mas acabou perdendo o Oscar para Adrien Brody ("O Pianista"), talvez por acharem que ele já ganhou demais (se tiver quatro empataria com a recordista Katharine Hepburn). Mas por mim, ele merecia tudo.

O tema do filme é um dos venenos de bilheteria tradicionais, a história de um sessentão que se aposenta da firma de seguros, em Omaha, Nebraska, onde teve uma vida segura e medíocre. Agora tem a festa de despedida e descobre que não lhe resta muito na vida. A esposa controla tudo em casa (um dia, ele comenta, que acordou e olhou para o lado, pensando "Meu Deus quem é esta velha que dorme comigo!"). Ela o obriga até mesmo a fazer xixi sentado para não molhar a tábua. Só que ela repentinamente cai morta (deixando também o super trailer que o obrigou a comprar para possíveis viagens) e ele fica perdido e também revoltado com um segredo que descobre.

A filha (Hope Davis) mora em Denver, Colorado, e está para se casar com um sujeito esquisitão, mas bonzinho, que vem de uma família excêntrica (Dermot Mulroney, bem caracterizado). Nicholson obviamente o odeia e o acha inferior à filha, tentando impedir o casamento no melhor estilo "O Pai da Noiva".

Mas o que fazer com seu tempo livre? A libertação começa quando ele descobre uns segredos. Revoltado pega o trailer e sai viajando a esmo, revisitando os lugares onde nasceu e estudou. Na segunda parte, vai para o casamento da filha, se hospedando na casa da futura nora dela (uma aparição maravilhosa de Kathy Bates, dando outro show, inclusive aparecendo nua numa cena de banheira jacuzzi, o que é notável já que ela está longe de ser uma beldade. Mas é grande atriz e figura, e se sobressair num filme de Nicholson não é mole. Mereceu sua indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante).

Hoje em dia como o público que vai ao cinema é mais jovem, o filme foi fracasso de bilheteria. O interessante é que por causa do astro o filme consegue se tornar acessível e até engraçado, sem ficar trágico demais ou depressivo. Na verdade, a gente ri o tempo todo até porque Jack em momento nenhum exagera ou super representa (as caras estão na medida certa, nunca são caricatura). Foi muito injusto não lhe darem em Cannes o prêmio de Melhor Ator. Não há porque resisti-lo ainda mais nesse filme muito humano e sincero, que mostra uma América pouco desvendada.

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