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Ficha completa do filme

Guerra

Asas (1927)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4
Asas

"Asas" é historicamente importante por ter sido o primeiro a ganhar o Oscar de Melhor Filme (e também o de Efeitos Especiais, na época chamado de Efeitos de Engenharia), e o único mudo em toda a história do prêmio. Uma produção da Paramount, era obra de um diretor que entendia de aviões e de guerra, William A. Wellman (1896-1975), porque quando jovem não apenas lutou na Legião Estrangeira no Norte da África como foi motorista de ambulância e depois aviador da famosa Esquadrilha Lafayette na Primeira Guerra Mundial. Quando seu avião foi atingido, Wellman ficou ferido e teve que pedir baixa como inválido, mas conseguiu se recuperar de tal forma que virou piloto de exibições aéreas, até entrar para o cinema. Por isso as seqüências de batalhas aéreas são tão impressionantes (ajudava o fato de que em muitas cenas os próprios atores pilotavam, acionando uma câmera fixa na fuselagem do avião e interpretando sozinhos no ar).

O filme (mudo, mas que em 1929 ganhou uma versão sonorizada) conta uma história convencional sobre dois americanos que vão lutar na I Guerra, mas acabam virando rivais pelo amor de uma garota, com um final inesperado e trágico. Mas Wellman, que depois ficaria famoso por suas comédias sofisticadas, encenou tudo com extrema habilidade e criatividade, recheando o filme de pequenas idéias interessantes, efeitos visuais, detalhes, valorizando assim o roteiro despretensioso. Os dois protagonistas são feitos pelos hoje esquecidos Richard Arlen e Charles Buddy Rogers, que foi galã de Janet Gaynor e marido de Mary Pickford. Mas os verdadeiros astros dos filmes são dois outros, ambos em papéis coadjuvantes.

Este foi o filme que revelou Gary Cooper (1901-61), após várias pontinhas inexpressivas. Ele já tinha 26 anos quando aproveitou sua chance no papel extremamente pequeno mas marcante em "Asas", que chamaria atenção para ele e deslancharia sua carreira. Cooper era de Montana, filho de emigrantes ingleses (o pai era juiz). Por isso o jeitão de cowboy era mais um personagem do que a verdade, ao contrário da lenda. Ele havia feito uma ponta em um dos sucessos de Clara Bow, "It" (Idem, 1927) e depois um papel maior em "Filhos do Divórcio" ("Children of Divorce", 1927). Como era dado a conquistador, também foi seu amante. E ela o indicou para o diretor Wellman, que lhe deu o papel que o tornaria astro até o fim da vida.

Clara Bow (1905-65) teve menos sorte. Ela foi a estrela que melhor representou os anos 20, a chamada flapper, de cabelo curto, lábios em forma de coração, olhos redondos, um jeito todo faceiro de andar, alegre, viva, muito sensual e totalmente emancipada. Quando uma escritora chamada Elinor Glyn criou a palavra It para designar algo mais que as mulheres precisavam ter, Clara foi escolhida para personificar esse algo mais, tornando-se a Garota It. "Asas" é o filme mais visto da atriz hoje e foi o ponto máximo de sua carreira, que terminaria tragicamente logo após a chegada do cinema falado. A bebida, os homens e os excessos acabaram por destruí-la, embora continuasse viva e aposentada até 1965.

Talvez o filme não fosse melhor do que "Aurora" (Idem, 1927) ou "O Último Comando" ("The Last Command", 1927), que também concorriam naquele ano, mas certamente foi sintomático o primeiro Oscar ir para um super espetáculo como esse, que até hoje continua impressionante. O filme foi exibido na época com algumas cenas a cores e parcialmente no depois abandonado Magnascope, um ancestral do Cinemascope. Edição traz cópia bastante razoável, com ótima trilha musical e de efeitos sonoros, mas com irritantes legendas fixas em chinês!

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