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Ficha completa do filme

Drama

Babel (2006)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3

Conclusão de uma trilogia do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, cujas partes anteriores foram "Amores Brutos" e "21 Gramas". O tema é: "a dor é universal... mas também a esperança". Indicado aos Oscars de filme, direção, montagem, atriz coadjuvante (para a mexicana Adriana Barraza e a japonesa Rinko Kikuchi) e roteiro original, ganhou apenas o de trilha musical para o argentino Gustavo Santaolalla. Ganhou também o Globo de Ouro de melhor filme e levou três prêmios em Cannes (técnico, ecumênico e melhor diretor).

É mais uma vez o chamado "efeito borboleta", que estabelece relações entre ações aparentemente isoladas. Ou simplesmente a ilustração de um mundo que enlouqueceu, perdeu o sentido e o bom senso. Qualquer interpretação é admissível e lógica a partir do próprio titulo simbólico. "Babel" é uma referência, não explicada no filme, a um mundo que, como a lendária cidade da Bíblia, fala muitas línguas e é incapaz de se entender.

O filme se baseia num roteiro original do habitual parceiro do diretor, Guillermo Arriaga (que escreveu também "Três Enterros"), mas que provocou uma briga até agora não resolvida entre eles. Um casal (Brad Pitt, que também é co-produtor, e Cate Blanchett) está viajando de ônibus pelo interior do Marrocos, na tentativa de salvar o casamento, quando ela é atingida por um tiro perdido. Logo o caso se torna um escândalo internacional. Teria sido um atentado político? Mas o público já está sabendo a verdade. Foi tudo um acidente ocorrido quando dois garotos, pastores de cabras, experimentavam a nova espingarda de caça do pai, que a comprou de um vizinho, que por sua vez o ganhou de um japonês que veio caçar na região.

Paralelamente acompanhamos: 1) a aflição do marido procurando socorrer a esposa; 2) o desespero das crianças tentando esconder a tragédia do pai e da poílicia; 3) o problema da babá latina dos filhos do casal americano, que tem de ir ao México para o casamento do próprio filho, leva junto as crianças e, sem querer, se envolve em outra tragédia; 4) uma moça japonesa deficiente auditiva e carente que procura amor nos lugares errados e tem dificuldade de relacionamento com o pai.

Ou seja, um casal de americanos sem querer se envolve num incidente que tem repercussões globais e pode até desestabilizar governos, simplesmente porque eles são cidadãos americanos. Enquanto isso, os pobres não desfrutam da mesma atenção. Os mexicanos são caçados como feras e tratados como animais na fronteira com os Estados Unidos; os árabes ficam encurralados numa sucessão de mentiras e desencontros. É como se a moral da história fosse esta: os pobres (também os países) estão sempre perdendo, os ricos sempre ganhando de alguma forma (os japoneses também têm um final razoavelmente feliz).

Nessa alegórica ilustração de nosso tempo, o abismo entre ricos e pobres fica cada vez maior, menos claro e menos transponível. Fracasso de bilheteria nos EUA, "Babel" foi mais compreendido no Brasil.

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