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Ficha completa do filme

Drama

Boa Noite e Boa Sorte (2005)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4

Os filmes do Oscar de 2006 tiveram em comum as temáticas polêmicas e políticas. Todos são difíceis, para públicos restritos e correm o risco de não serem compreendidos, em particular pelo público brasileiro que conhece muito pouco sobre Truman Capote ("Capote") e menos ainda sobre quem foi Edward R. Murrow, o biografado deste filme. Para piorar, este aqui ainda é em preto e branco, o que o tornará um definitivo insucesso comercial. Um detalhe: foi rodado em cores e depois adaptado, concebido originalmente como um programa de TV que seria mostrado ao vivo!

Mesmo assim, o filme foi premiado em Veneza e tem dado enorme prestígio ao seu "originador" George Clooney (que faz um papel pequeno e não ganhou nada para dirigi-lo). Na verdade, Clooney é filho de um jornalista que foi amigo de Murrow e então entende do assunto. Que aliás tem conotações mais próximas, já que tudo que fala e se passa nos anos cinqüenta, sucede da mesma forma atualmente com o governo Bush (e com o ator e diretor, que tem sido perseguido pela direita americana, que zombam de sua constante militância).

O titulo é a frase de despedida que o jornalista Edward Murrow (1908-75) usava em seu programa de TV nos anos 50. Brilhantemente interpretado por David Straithairn (indicado ao Oscar), é uma figura sóbria, não especialmente simpática, que tem a credibilidade dos espectadores. A opção de Clooney é usar cenas reais dos antigos programas de TV (também por isso o preto e branco) e principalmente as cenas do senador Joseph McCarthy, que naquela época usava o Congresso para se promover, com a desculpa de que havia infiltração de comunistas na industria do cinema e televisão. Foi a chamada "Caça As Bruxas" do McCarthismo, quando se criou uma lista negra não oficial que impedia o trabalho de qualquer pessoa suspeita (não era necessário provas) de ter tido alguma ligação com o Partido Comunista. Certamente fruto da histeria da Guerra Fria, foi uma mancha negra na Democracia americana só comparável ao momento atual em que os princípios da Constituição têm sido pisoteados pelos atos do Governo.

Enfim, ele conduzia um programa de entrevistas (ouvimos uma de Liberace, famoso pianista gay enrustido), mas foi um dos únicos a se insurgir contra os métodos de McCarthy, ousando contestá-lo e pagando um preço alto por isso (foi o começo do declínio de sua carreira, incompreendido pelos patrocinadores e os diretores das redes de televisão). Mas foi também o começo do fim de McCarthy, que pela primeira vez perdeu uma (em pouco tempo seria desmascarado como corrupto e mentiroso).

É uma época feia que infelizmente é mal conhecida (no Brasil e lá fora) e o filme tenta informar. Mas há muita resistência a saber algo fora do trivial e do que sucede no Big Brother. Por isso, infelizmente nem sempre consegue empolgar o público comum, mesmo tendo sido indicado aos Oscars de ator, diretor, roteiro original, filme, fotografia e direção de arte. Não ganhou nenhum, mas Clooney foi melhor ator coadjuvante pelo filme "Syriana", uma espécie de premio de consolação. Um detalhe curioso: nas sessões de teste do filme, muita gente disse que o ator que representava McCarthy era caricato. Sem imaginar que eram gravações do próprio. Outro achado: não há trilha musical, apenas canções standards da época interpretadas sempre pela cantora Diane Reeves (e a banda da falecida tia do diretor, Rosemary Clooney).

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