Rara oportunidade de se conhecer finalmente no Brasil um filme do mestre Yasujiro Ozu (1903-63), pouco visto no ocidente, e que foi tardiamente reconhecido internacionalmente, ofuscado por Kurosawa e Mizoguchi. Não é difícil entender isso, pois seus filmes são extremamente ligados ao temperamento japonês e retratando quase que exclusivamente a classe média japonesa, a luta entre gerações e a modernização e americanização do país, que ele via com olhos críticos.
Seus filmes são extremamente simples, delicados e muito orientais. Este é um típico exemplar de seu trabalho, uma pequena obra-prima, com narrativa precisa, direção de atores perfeita e a típica câmera de Ozu, sempre fixa e baixa, como que do ponto de vista de alguém ajoelhado no tatame, e com enquadramentos extremamente elaborados e bonitos.
Os conflitos são mostrados de forma suave, a crítica social é sutil e a ironia constante. Além disso, ele demonstra grande compaixão e afetividade por seus personagens, todos profundamente humanos e reconhecíveis por todos nós: as crianças espertas mas com dificuldades em entender o universo adulto, as vizinhas fofoqueiras mas unidas, os homens de meia-idade lutando para manter suas famílias, os apaixonados hesitando em se declararem: tudo isso permeado por uma sociedade em plena mudança e ainda um pouco incompreensível para todos.
Enfim, ao falar sobre sua aldeia, Ozu falou para o mundo. Excelente cópia mantendo o delicado colorido original.