Boom (2004)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

Tecnicamente está tudo impecável: um belo e antigo teatro, boa captação do som, eficiente corte de câmeras, boa iluminação (que nos permite observar o tempo todo a reação entusiasmada do público). Mas o texto de Luiz Carlos Góes é fraco, apesar de ter um curioso e simpático tom espiritualista. Tanto que "Boom" seria a passagem para a morte.

O espetáculo foi gravado num dia particularmente feliz, porque Jorge Fernando completava 49 anos e ao final, apaga velas e faz um discurso muito revelador, onde confessa que fez o espetáculo porque "queria se exibir". E não há a menor dúvida de que faz isso.

Embora tenha pouco sustentáculo por trás (há um casal que ajuda em cena na parte final e a cenografia/ figurino de Cláudio Tovar é exuberante como se espera), Jorginho tem um impressionante domínio do palco e principalmente da platéia. Faz coisas inacreditáveis com o público, por vezes insultando, chamando-o de velhos e gays (embora também afirme que ninguém é mais viado do que ele), e todos acham a maior graça.

Ele se tornou o mestre da comédia do insulto, capaz de conduzir uma platéia ao delírio quando desce entre as poltronas e chega ao cúmulo de sacudir os cabelos dos espectadores (se isso acontecesse nos EUA, o que já seria impossível, ele seria preso por maus tratos e invasão de privacidade).

E ele consigue isso fazendo personagens fracos e de poucas conseqüências (o ponto de partida é o professor Rebello, que seria um paranormal que sofre com espíritos que descem nele nos momentos mais inesperados, entre eles Maria Callas, uma dançarina de Can-Can e o Mago Merlin). Chega ao ponto de baixar as calças e mostrar o traseiro, isso para não mencionar os muitos palavrões.

Apreciar o show ou não, é uma questão de gosto. Mas não há como deixar de louvar seu incrível domínio em cena e seu talento histriônico. Até mesmo sua mensagem mística tem seu impacto e depois de um momento de perplexidade, pode até funcionar.