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Ficha completa do filme

Aventura, Drama, Baseado em fatos reais

Caminho da Liberdade (2010)

Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Do UOL Notícias 05/08/2011
Nota: 3

"Caminho da Liberdade" trata sobre o retorno, como sugere seu título original em inglês ("The Way Back"). A princípio, a ideia parece ser mostrar um grupo de prisioneiros que, em fuga, volta às suas famílias, seus lares, suas vidas cotidianas. Mas não é bem assim. Por trás da história da fuga, o cineasta Peter Weir aborda o retorno do ser humano às suas origens primitivas. Interessa ao diretor usar o enredo do filme para tratar de questões mais filosóficas do que dramáticas.

O espectador vai notar logo que o filme é pouco "dramático", no sentido de quase não possuir conflito. O longa mostra a fuga de prisioneiros de um gulag soviético na Sibéria dos anos 40. Esse grupo reúne presos políticos dos mais diferentes perfis e um perigoso preso comum (vivido por Colin Farrell, de "Minority Report - A Nova Lei").

Seriam elementos perfeitos para desenvolver conflitos ou alguma tensão, mas isso não ocorre. Mesmo a jornada dramática de atravessar mais de 6.500 km entre a Sibéria e a Índia se reduz a pouco mais que uma caminhada difícil.

Com isso, o filme nos faz prestar atenção em apenas duas coisas: homens e a natureza. A proposta é questionar o reencontro do homem com a natureza. O que o filme nos mostra são pessoas reduzidas a um estado mais primitivo, que lutam pela sobrevivência.

Isso fica claro em uma cena em que os fugitivos disputam a carcaça de um animal com lobos. Após espantar os predadores, os homens devoram a carcaça como se eles próprios fossem selvagens.

Outro momento importante mostra Farrell se desentendendo com outro personagem por ter sua tatuagem de líderes comunistas questionada. Em um ambiente harmônico em que até o mais perigoso dos criminosos se torna pacífico, será a imagem de políticos, a personificação da política, que desencadeará algum atrito e revelar as diferenças entre os personagens.

Ou seja, a política, que tem o papel de organizar a vida do homem na civilização, é o motivo de violência e desagregação em "Caminhos da Liberdade". Mais que isso, é o elemento que organiza a vida em sociedade na civilização moderna que traz traços negativos àquele grupo.

No fundo, Weir ("Mestre dos Mares") trata de dois princípios caros ao filósofo Rousseau: "os males do homem estão relacionados à civilização" e "o homem primitivo é bom porque é natural". Assim, o retorno que o cineasta propõe em seu título original é do homem ao seu estado natural, primitivo.

Mas trata-se aqui do "bom selvagem". Por isso, a chegada de uma mulher, que poderia ser um elemento desagregador em um grupo de homens, é tratado com harmonia ou um quase desdém no filme.

Também é por isso que o filme dá pouca importância em ser fiel ao livro de memórias do oficial do Exercito polonês Slamovir Rawicz que serviu como base para o roteiro. Mais que uma reconstituição do drama enfrentado por aquele grupo (versão que recebe contestação por parte de analistas), "Caminhos da Liberdade" é uma obra para reflexão.

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