Darren Aronofsky estreou com um filme rápido e faceiro chamado "Pi" (1998). Nessa época, aos olhos da crítica e dos cinéfilos, suspeitava-se que aparecia um cineasta interessante de se acompanhar.
Com o segundo filme, "Réquiem para um Sonho" (2000), Aronofsky conseguiu causar a cisão que iria definir boa parte de sua carreira, para o bem e para o mal (ainda que esse mal fosse também favorável a ele, por ser uma publicidade). Um grupo de cinéfilos e críticos passou a odiá-lo. Outro, a adotá-lo como cineasta cult, capaz de mexer com temas urgentes de maneira eficaz e esperta.
Parte do grande público, aquele que mal segue diretores, passaria a se interessar por Aronofsky com esse segundo filme. Outra parte teria gostado do tema: os perigos do vício em drogas.
Isto durou até, "O Lutador", o quarto longa, que lhe valeu uma quase unanimidade positiva entre os grupos antagônicos. O grande público, igualmente, apoiou esse novo rebento, achando que Mickey Rourke estava perfeito no papel principal.
Chega, então, "Cisne Negro", seu quinto longa-metragem. Uma nova cisão aparece, ainda mais radical que a primeira. Grande parte da crítica odiou com todas as forças. Uma outra parte adorou, e uma terceira ficou indiferente. E o grande público? "Que maravilhosa a Natalie Portman!!!".
A atriz que despontou como uma pré-adolescente em "O Profissional", de Luc Besson, faz uma bailarina que, para conseguir o papel principal em "O Lago dos Cisnes", balé clássico de Tchaikovski, precisa dominar seu medo, seu lado frio e técnico, para se entregar completamente tanto ao cisne branco, o bonzinho, quanto a seu duplo, o cisne negro. Como deve ser a mesma dançarina que desempenha ambos os papéis, ela teria esse desafio pela frente.
Quer dizer, não é só isso. Teria também que lidar com o sedutor diretor da companhia de balé que a escolheu (Vincent Cassel, em um papel constrangedor) e com uma colega que lhe parece ameaçadora (a impressionante Mila Kunis).
O que acontece com "Cisne Negro" foi bem definido pelo crítico Inácio Araujo. Muitos dos supostos achados do filme, obsessões e traumas da mente da protagonista, seriam truques para "impressionar os impressionáveis". Nada do que o filme mostra é novidade. Tudo já foi explorado antes e melhor dentro da história do cinema.
"Cisne Negro" ainda tem o grave defeito de ser totalmente óbvio na maior parte do tempo. Por exemplo: quando Natalie Portman tenta realizar alguns movimentos sensuais e não consegue por excesso de técnica, vemos o diretor olhando para uma, Portman, e outra, Kunis, como se quisesse deixar claro para o espectador que ele está pensando na troca da bailarina principal. Imaginem um diretor de uma companhia muito respeitada escancarando sua dúvida de uma maneira dessas, para todo mundo que olhasse para ele. É de doer de tão mal filmada e besta essa cena.
Pior é que não é a única. Muitas cenas como essa se espalham pelo filme, que tem, sim, um mérito, além da ótima atuação de Mila Kunis: a interessante presença de uma bailarina em franca decadência, interpretada por uma sofrida Winona Rider. Em alguns momentos podemos dar um crédito para a câmera de Aronofsky, que realiza movimentos difíceis para acompanhar a protagonista de perto.
É pouco, dentro de um filme francamente superestimado.