C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor (2005)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 4

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Apesar de ter feito sucesso na Mostra de Cinema de São Paulo e no Festival Mix Brasil, não encontrou seu público este simpático, humano e efusivo filme canadense, que tem chance de atingir um publico maior do que o exclusivamente gay. Talvez por isso a capinha não menciona nada do tema homossexual, preferindo fugir para o genérico amor de pai e filho. Sexualmente discreto, "C.R.A.Z.Y." se preocupa mais em ser uma comédia de costumes e um retrato psicológico de um rapaz que recusa ser diferente.

A história se passa no dia-a-dia de uma família canadense francófona de Quebec, e é centrada na vida de Zac, que teve a má sorte de ter nascido na véspera do Natal de 1960. Seu parto foi difícil e ainda por cima o deixaram cair no chão, recém-nascido. Por isso sua mãe o acha especial, protegido pela Virgem e com dons mediúnicos.

O filme acompanha a trajetória de Zac desde garoto, pintando um retrato afetuoso da família de mais quatro irmãos, todos diferentes entre si (há o esportista, o drogado, o caçula gordinho), mas a figura dominante é o pai machista, tradicional e também cafona, dado a fazer dublagens de Charles Aznavour em festas.

Tudo funciona por causa de um excelente elenco, inclusive as crianças, e um roteiro inteligente e cheio de humor. Há freqüentes momentos de fantasia e uma trilha musical nostálgica com Rolling Stones, Pink Floyd e David Bowie. Não é à toa que foi fartamente premiado -- melhor filme canadense no Festival de Toronto, prêmio dos críticos de Vancouver, 13 prêmios Jutra (do Canadá francês) e dez prêmios Genie (o Oscar canadense), além de troféus nos festivais de Gijón, Boulder e AFI.

O diretor levou dez anos para conseguir escrever o roteiro, inspirado nas lembranças do co-roteirista François Boulay. É muito fácil se envolver na história e identificar-se com as culpas católicas do herói. Não é apenas a sua história, mas a saga de uma família que trilha distintos caminhos, alguns sem volta -- comovente sem deixar de ser interessante e divertida.