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Ficha completa do filme

Ficção Científica

Daqui a Cem Anos (1936)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
Daqui a Cem Anos

O grande cenógrafo e diretor de arte William Cameron Menzies (1896-1957) teve uma excepcional carreira em sua área, muito influente e inovador, e começou ainda no período mudo (quando fez "O Ladrão de Bagdá" com Fairbanks), indo até a década de 50, com o desenho de produção de clássicos como "E O Vento Levou" (que lhe valeu um prêmio honorário da Academia), "Por Quem os Sinos Dobram" e "A Volta ao Mundo em 80 Dias". A partir de 1931 também passou a dirigir, sempre aplicando seu apuro visual, mas raramente fazendo filmes tão superlativos quanto era sua direção de arte.

Este grande clássico da ficção-científica, baseado no best-seller de H.G. Wells "The Shape of Things To Come", é seu filme mais lembrado e foi sua obra-prima, provavelmente por dever grande parte de sua força ao visual. Uma superprodução inglesa de Alexander Korda (com os notáveis cenários desenhados por seu irmão Vincent), é uma sombria visão do futuro da Terra (pela ótica da Inglaterra da década de 30 do século XX), cuja sociedade é destruída por uma infindável guerra (no filme começando em 1940) e se reergue através de arrojados avanços tecnológicos que proporcionam à humanidade bem-estar, conforto e paz.

Mas uma cidade mecanizada e naves espaciais são sinônimos de bem-estar? A tecnologia por si só é que determina o progresso de um povo? Estes são pontos discutidos por Welles (1866-1946), antes de tudo um cientista social que usava a ciência mais como ponto de partida de suas histórias do que como fim.

A preocupação excessiva em ressaltar as preocupações do escritor (que fez o roteiro e supervisionou informalmente a produção) não fez bem ao filme, que sofre com uma lentidão excessiva na primeira metade, muito expositiva, e tem personagens esquemáticos e rasos (ainda que interpretados por grandes nomes do cinema inglês, como Raymond Massey, Ralph Richardson e Cedric Hardwicke). Porém as irregularidades da história são largamente compensadas pelo visual excepcional, com imensos e muito criativos cenários (cuja visão do futuro envelheceu bem melhor do que, por exemplo, a de "Metrópolis", de Fritz Lang).

E ainda a inovadora e marcante trilha musical do compositor erudito Sir Arthur Bliss (1891-1975), composta antes do filme ser rodado. Luxuoso e caro, foi um fracasso comercial na época, sem dúvida devido ao lúgubre e complexo tema e à falta de personagens simpáticos. Mas hoje sobrevive como uma das grandes tentativas de antecipação do futuro, tão características do cinema desde seus primórdios. Infelizmente o DVD traz cópia não-restaurada, que não faz jus à importância do filme.

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