Estranha Compulsão (1959)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

Esta é a mesma história de "Festim Diabólico" (1948), de Alfred Hitchcock, agora baseada em uma bem-sucedida peça de teatro de Meyer Levin. Ou seja, o filme é inspirada nos mesmos fatos reais, novamente disfarçados. Trata-se do caso dos assassinos Nathan Leopold e Richard Loeb, de Chicago.

O diretor Richard Fleischer (1916-2006) faz um de seus melhores trabalhos, com uso habilidoso do Cinemascope em preto e branco e excelente direção de atores. O filme é notável por ter ganho no Festival de Cannes um prêmio especial de interpretação masculina para o trio central, Orson Welles, Bradford Dillman e o ex-ator infantil Dean Stockwell.

Ainda foi preciso disfarçar um elemento muito importante, a ligação homossexual entre os dois assassinos. Judd (Stockwell) e Arthur (Dillman) são os rapazes ricos e amorais, que, interpretando com liberalidade as teorias do filósofo alemão Friedrich Nietzche (1844-1900) sobre o super-homem, acabam por seqüestrar e matar um garoto.
A intenção era cometer o crime perfeito. Eles são defendidos por um advogado que luta contra a pena de morte (Welles com um de seus habituais narizes falsos).

O filme é mais bem construído na primeira parte, com as personalidades complexas dos dois assassinos bem caracterizadas. Stockwell faz o mais tenso e taciturno; Dillman, o exuberante e fanfarrão, que chega ao extremo de ajudar nas investigações do crime. Há também detalhes interessantes, como eles se distraírem indo ao matadouro ver os animais serem mortos ou a estranha atração que o afeminado Judd exerce sobre uma moça da turma (Diane Varsi).

A parte final, quando são julgados, é mais convencional, focada em uma insistente condenação da pena de morte. O filme tem uma merecida aura cult e, como muitas das produções de Darryl Zanuck e seu filho Richard, parece mesmo ousado e moderno, à frente do seu tempo. Fleischer passou maus bocados com Welles, que agiu como estrela temperamental. Ele só entra no último terço do filme, mas segura bem o monólogo final no tribunal, ainda o mais longo desse tipo na história do cinema.

A edição em DVD traz cópia muito boa.