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Ficha completa do filme

Drama

Estrela Solitária (2005)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
Estrela Solitária

Em 1984, Wim Wenders ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes com seu filme "Paris, Texas", provavelmente sua obra-prima e que foi escrita justamente pelo dramaturgo e ator Sam Shepard, que recusou estrelá-la. Agora eles voltaram a se encontrar, Shepard também como ator (e trazendo ainda sua esposa Jessica Lange), neste "Estrela Solitária" (título infeliz que lembra o jogador Garrincha ou Estado do Texas, que não tem nada a ver, já que se passa em Utah e Montana).

E logicamente todos os críticos sem imaginação foram dizendo o óbvio, que o outro era melhor. Melhor nem comparar apesar de algumas semelhanças também temáticas (lá um homem e uma criança procuram pela mulher e mãe desaparecida, aqui é um astro de cinema de faroestes, já meio decadente, meio Clint Eastwood, mas sem semelhanças no mundo atual, já que não se fazem mais westerns como aquele que está sendo produzido ali).

Enfim, o ponto de partida parece algum fato real que Wenders ouviu de algum veterano diretor que conheceu, tipo John Ford. E pediu para Sam expandir. Assim, o cowboy chamado Howard Spence se enche da filmagem no deserto de Utah e foge, para procurar a mãe que não encontra há muitos anos e vive perto dali (Eva Marie).

Ela menciona o fato de que ele deve ter um filho já adulto em Montana e ele parte para Butte, procurando a ex-namorada (Jessica) que não quer mais nada com ele. Mas o filho realmente existe (Mann), é músico e o recebe mal (custa a crer que ele não saberia quem é, já que no bar da mãe tem um pôster e fotos de Howard).

Enfim, de quebra tem também uma outra moça (a ótima Sarah Polley) que pode ser sua filha (essa relação é melhor tratada, de forma bem mais sutil). Não é melodrama e as situações são tratadas de forma discreta e por vezes até engraçadas. Não se fogem de clichês, mas se leva muito tempo na fase expositiva, com um personagem que é desagradável e antipático, sem qualidades redentoras (ele bebe, dorme com todas as mulheres, não liga para a mãe, nem para ninguém), o filme melhora muito numa cena espetacular tecnicamente.

É na discussão na rua, quando quase ao final passa uma nuvem e a luminosidade muda brutalmente. Em vez de refazer, Wenders resolveu deixar, mostrar a origem daquilo (o céu cor de chumbo) e ir adiante com a seqüência, que coloca Sam sentando no sofá, esperando o tempo passar, ou seja, a noite chegando, tudo muito bonito e poético.

Dali em diante chegam os conflitos e o filme melhora, graças a algumas grandes figuras, como Tim Roth que dá ironia ao personagem do detetive do seguro que vem atrás dele (o diálogo no carro onde ele diz que não houve rádio porque as notícias são as mesmas, e exemplifica, como as Cruzadas, a conquista do México etc).

Concorrente em Cannes, o filme ganhou Melhor Fotografia no European Film Award, onde teve mais três indicações. Custou 11 milhões e estreou nos EUA em poucas salas e nenhum sucesso. As canções interessantes são de T-Bone Burnett mas a que dá título original ao filme é de Bono e Andréa Carr. Ou seja, um filme interessante apesar de tudo.

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