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Ficha completa do filme

Drama

Hiroshima Meu Amor (1959)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
Hiroshima Meu Amor

"Hirioshima Meu Amor" é o primeiro longa-metragem do então famoso documentarista francês Alain Resnais. É importante situar a época (1959) e comentar que o filme foi: 1) precursor da nouvelle vague; 2) feito no auge da Guerra Fria, período em que a possibilidade de uma guerra nuclear era latente e falar em paz era considerado "de esquerda" e conseqüente oposição aos EUA; 3) muito ousado estilisticamente, mistura literatura e cinema e foge do realismo (mesmo na interpretação de Emmanuelle Riva, que dá sempre um toque teatral ou artificial de propósito).

Mas o filme é especialmente ousando ao misturar passado e presente sem os flashbacks tradicionais, recurso hoje absorvido pelo público, mas era então uma revolução na linguagem.

Resnais pensou antes em Françoise Sagan para escrever o roteiro (ela recusou) e depois em Marguerite Duras, da linha do "nouveau roman" e futura diretora de cinema de vanguarda. Seu estilo pessoal, romântico e preciso, marca todo o filme.

Sem dúvida, os primeiros minutos são uma intocável obra-prima, quando um casal na cama primeiro parece se liquefazer, como as vitimas da cidade queimadas pela força de mil sóis. É um casal na cama de um hotel: uma atriz francesa que está em Hiroshima para rodar um filme e um arquiteto japonês, ambos casados. O diálogo se repete: "Eu vi tudo em Hiroshima...". "Você nada viu", ele replica .

Depois o filme perde um pouco o fôlego quando o japonês insiste em continuar com a européia que vai partir no dia seguinte. Isso deflagra nela uma lembrança que tentava ocultar e esquecer. Quando muito jovem, em sua cidade natal, Nevers, ela teve um romance com um soldado alemão que foi morto em seus braços. Depois teve a cabeça raspada e foi escondida num porão pela família.

O filme então se torna um exercício de tempo, memória e esquecimento (diz Duras: "Você não encontrará os limites do esquecimento tão longe que você não possa esquecer").

A cópia do filme é um pouco escura, mas a trilha musical é inesquecível. "Hiroshima Meu Amor" foi indicado ao Oscar de roteiro, ganhou prêmio da crítica em Cannes, melhor filme estrangeiro pelos críticos de Nova York, e Resnais foi indicado ao Sindicato dos Diretores. Traz referências explícitas a "Casablanca" e "Orfeu", de Jean Cocteau.

Para não dizer que é perfeito, perde fôlego como se não soubesse como terminar (e acaba de certa maneira interrompido).

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