História Real (1999)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

Custou a chegar ao Brasil este filme que passou em Cannes em 1999 (e não ganhou nada, o que foi injustiça) e depois deu uma merecida indicação ao Oscar para o veterano ator Richard Farnsworth (1920-2000), que faleceu em 6 de outubro e que durante as filmagens já estava sofrendo do câncer que o matou (na verdade, ele se matou antes de esperar o fim pela doença).

Ou seja, é uma figura poderosa, humana, sensível, super discreta (ele é daquela linha de atores cowboys - foi antes stunt man - que fazem tudo de forma interiorizada, com o mínimo de recursos e o máximo de efeito. Ou seja, por ele só o filme já vale).

O curioso desta fita é que não tem nada a ver com os outros filmes do diretor Lynch. Nada de loucuras, fantasias, morbidez, estamos longe do universo de "Veludo Azul" ou "Twin Peaks", muito menos ainda do posterior "Mullholand Drive/ Cidade dos Sonhos". É como diz o título original, "uma história direta, simples".

Segundo Leonard Maltin, "o filme mais benigno dele!" Graças à presença de Farnsworth acompanhamos com simpatia a trajetória do herói (que se chama Straight ou seja, Direto, Reto). É uma fita de estrada, só isso, sua viagem (e termina de uma forma um pouco abrupta, sem grandes lances emocionais).

Irrita um pouco o fato de que todo mundo que o velho encontra é bonzinho, educado, gentil, prestativo. Quando se sabe que na vida real não é bem assim. Ou seja, a fita tem uma mensagem a favor da decência do ser humano (ou seria do americano?).

Fiquei com uma desconfiança de que no fundo o filme faz o elogio do americano médio, do interior (será que eles não são racistas? Reacionários? E daí para pior ao menos nos filmes eles não tem espaço, todo mundo sai direto de uma folhinha de Norman Rockwell). Duvido que na realidade esta história dita real fosse assim tão cor de rosa.