A primeira impressão parecia ser que este era um Romeu e Julieta palestino. Tem um pouco disso, mas é totalmente secundário na estrutura da história. O filme dirigido e estrelado por Elia Suleiman foi uma boa surpresa no Festival de Cannes, onde ganhou prêmio do Júri e o prêmio da Crítica (mais tarde foi indicado oficialmente pela Palestina ao Oscar de Filme Estrangeiro de 2003, mas não ficou entre os finalistas).
É uma comédia quase de humor negro, claramente poética, que parece as fitas de Jacques Tati e faz uma citação de "O Balão Vermelho". Num tom de humor visual, com pouquíssimos diálogos, retrata o absurdo da vida em Nazaré, com vizinhos fazendo pequenas maldades e implicâncias com os outros, todos passando pela humilhação das barreiras israelenses e nisso tudo um amor sem palavras, porque não sabem falar a língua um do outro, de um casal de raças diferentes (e a moça numa seqüência meio boba acaba virando uma ninja palestina).
O interessante é que o diretor/ ator Elia consegue encontrar o tom certo de humor, tem a mão certa, sem ficar grosseiro, vulgar ou apelativo e nem sequer óbvio. A narrativa que é lenta por natureza (é preciso de tempo para construir as piadas) vai ficando um pouco mais indignada ao final.
Mas sem panfletarismo ou exageros políticos. O final obviamente simbólico mostra uma panela de pressão fervendo e a frase "pode desligar agora". E que está tão atual quanto sempre.