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Ficha completa do filme

Drama

Intimidade (2001)

Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Colaboração para o UOL 17/09/2010
Nota: 3
Intimidade

Vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim, "Intimidade", filme inglês do diretor francês Patrice Chéreau, não foi exibido comercialmente nos cinemas do Brasil e só sai agora em DVD, quase dez anos depois. Quando lançado na Inglaterra, ganhou divulgação extra na imprensa graças às cenas de sexo, explícitas e abundantes, entre os protagonistas Jay (Mark Rylance) e Claire (Kerry Fox, também premiada em Berlim). Houve quem contasse quantos minutos elas ocupam da metragem total: 35 de 115.

O tempo realmente pesa sobre o espectador, porque não há nada de poético ou propriamente erótico nessas cenas. A primeira relação, logo no início do filme, termina com Jay pedindo desculpas pela rapidez. O casal mal se conhece, apenas se encontra semanalmente para transar. Há um equilíbrio de consentimento mútuo na relação até que alguma coisa leva Jay a seguir Claire para saber mais sobre sua vida. É quando a coisa pega.

Jay passa por um momento da vida em que impera a provisoriedade, ou pelo menos é isso que ele acha. Tendo saído, no estilo ?sem mais nem menos?, de um casamento com dois filhos, ele mora mal, tem uma carreira encerrada de músico, trabalha como gerente de um bar há muito tempo, esperando coisa melhor, e seu melhor amigo, sempre fora de si, não lhe dá ouvidos.

Claire, ao contrário, tem uma vida familiar protetora. Mas, sem talento, insiste em ser atriz. Quando Jay a segue pela rua, acaba chegando a uma montagem amadora de "À Margem da Vida", de Tennessee Williams, no porão de um pub.

"Intimidade" se baseia no romance homônimo e em dois contos de Hanif Kureishi (de "Minha Adorável Lavanderia" e "O Buda do Subúrbio"). Se há algo de realmente fiel ao livro é o caráter grosseiro e autocentrado do personagem masculino, que encontra no tipo físico de Mark Rylance uma encarnação perfeita. Com cerca de 40 anos, ele vive uma fase (talvez "típica" da idade) em que a solidão parece um destino inevitável.

Chéreau filma boa parte das cenas naquela proximidade dos corpos que, em vez de fazer ver melhor, tira a distância focal. Jay e Claire têm um cotidiano movimentado e cercado de suposta criatividade, mas o que predomina é a sensação de que vivem momentos de luto. O repertório pop na trilha musical ajuda muito a criar esse clima, abrindo e fechando com canções sombrias (dos Tindersticks e de David Bowie).

Desafiador em sua primeira metade, o filme fica um pouco inconvincente na segunda, sobretudo quando entra em cena o dia-a-dia de Claire e sua relação com a amiga mais velha (Marianne Faithful), paradoxal e impenetrável demais para o padrão confessional do diretor.

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