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Ficha completa do filme

Drama

Kagemusha, A Sombra do Samurai (1980)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
Kagemusha, A Sombra do Samurai

Após os fracassos comerciais de "Barba-Ruiva" e "Dodeskaden", as condições para o mestre Akira Kurosawa (1910-98) filmar no Japão tornaram-se ainda piores do que habitualmente já eram (em grande parte devido a seu espírito independente e às críticas por ser um cineasta ocidentalizado).

Isso o levou à tentativa de suicídio e a realizar "Dersu Uzala" em 1975, com recursos da União Soviética. Mas em 1978 não havia dinheiro para seus caros projetos em lugar nenhum, angustiando o já veterano diretor.

Foi quando dois de seus mais ilustres discípulos, George Lucas e Francis Ford Coppola, resolveram ajudar o mestre, utilizando a prosperidade de suas carreiras e convenceram a Fox a bancar parte dos custos, encorajando a japonesa Toho a cobrir o restante.

Só assim Kurosawa pode levar a cabo este que acabou sendo o filme mais caro realizado no Japão até aquele momento (e que ganharia a Palma de Ouro em Cannes e seria indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de Filme Estrangeiro). Kurosawa gastou bem o dinheiro, realizando um filme belo, com produção suntuosa (cenários, figurinos, armamento, tudo superlativo) e batalhas meticulosamente encenadas.

Isso apesar dos vários problemas novos surgidos durante a produção: tempestades destruindo os sets, o afastamento por problemas de saúde de seu diretor de fotografia predileto Kazuo Miagawa, a briga com o astro Shintaro Katsu (para quem o roteiro havia sido desenvolvido e que acabou sendo substituído) e com o compositor habitual de Kurosawa, Masaru Sato.

Mas o resultado, ainda que bom, não se alinha entre as obras-primas absolutas do mestre: o filme parece alongado demais para a frugalidade do enredo, resultando um pouco redundante e vazio. E por vezes árido e cansativo (como a longa cena inicial, em plano geral e sem cortes).

Também o elenco é irregular e a trilha musical de Shinichiro Ikebe é retumbante e deslocada, lembrando as feitas para épicos ocidentais e, ocasionalmente, ópera. Mesmo assim é uma bela observação sobre as relações entre realidade e ilusão, entre o âmago dos sentimentos humanos e sua aparência externa, parcialmente baseada em eventos reais da história do Japão.

Kurosawa nos mostra que o nobre soberano é tão ilusório quanto seu dublê, pois na sua ausência tudo transcorre normalmente (e, curiosamente, apenas um cavalo parece ser capaz de diferenciá-los). E que mesmo um ladrão vil pode absorver o espírito de seu modelo, incorporando seu heroísmo e sua mística.

Ou seja, tudo é apenas o que convencionamos que seja. Um tema que em seus anos dourados, com certeza, o diretor teria explorado com absoluta perfeição. Foi indicado também ao Oscar de Direção de Arte (perdendo para outro filme belíssimo, "Tess", de Polanski). DVD duplo com cópia boa.

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