Lírio Partido (1919)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 4

Griffith é um cineasta mais citado que assistido, e os interessados nele podem se assustar com o racismo de "O Nascimento de Uma Nação" e os exageros de "Intolerância", seus filmes mais conhecidos. Mas "Lírio Partido" será uma excelente introdução a esse mito do cinema.

Um belíssimo drama poético, com certeza um dos filmes mais tristes de todos os tempos, tem uma narrativa notavelmente moderna, típica de Griffith, com closes, tomadas de detalhes e uma montagem ágil e dinâmica. Lilian Gish está espetacular como a triste menina (ela é tão infeliz que só consegue sorrir empurrando os cantos da boca para cima com os dedos; na introdução Lilian conta que esse gesto, dos mais marcantes do filme, surgiu por acaso quando ela, doente com gripe, o fez diante de Griffith quando ele lhe pediu para sorrir mais).

Richard Barthelmess também está muito bem, convincente como chinês, e tornou-se um astro do período graças ao filme. E é curioso ver Donald Crisp, que nos acostumamos a ver em papéis positivos como o pai benevolente de "A Mocidade É Assim" fazendo o pai sádico e cruel.

O filme foge um pouco das implicações sexuais da relação entre o pai e a menina, mas será impossível para o público de hoje ignorar isso. Curiosamente Griffith é lembrado como um racista, mas aqui os brancos ingleses são todos maus, em oposição ao chinês bondoso.

A boa edição tem uma das mais longas metragens disponíveis do filme hoje, com cenas tingidas a cores e uma boa trilha musical moderna. Além de uma pequena introdução de Lilian Gish, comentando o filme. Faz parte da "D.W. Griffith Collection".