Lixo Extraordinário (2010)

Edilson Saçashima

Do UOL Notícias 15/07/2011

Nota: 5

MAIS

• FOTOS
• CRÍTICA
• TRAILER
• OPINE

A torcida e consequente frustração em torno da disputa pelo Oscar de Melhor Documentário tiraram o foco da principal virtude de "Lixo Extraordinário". O documentário demonstra sensibilidade e se permite mudar o rumo de sua narrativa diante de grandes histórias e personagens. Assim, uma história que parecia ser apenas a documentação de um projeto do artista plástico brasileiro Vik Muniz torna-se um retrato humanista de pessoas relegadas à camada mais baixa da sociedade.

"Lixo Extraordinário" é uma produção complexa, que demandou quase dois anos para sua realização e que ainda passou pela mão de três diretores. Tudo isso poderia tornar o resultado irregular, mas não é isso que acontece.

Nos primeiros minutos, o documentário surge como um registro de um projeto artístico de Vik Muniz. O artista plástico, seus trabalhos e pretensões estéticas são o foco do filme.

Tudo indicava que o trabalho de Muniz junto aos catadores de lixo de um aterro sanitário seria a forma encontrada pelos documentaristas para construir o retrato do artista. Por isso a estranheza em ver Muniz, um brasileiro radicado nos EUA, narrar sua história e até mesmo conversar com sua mulher em inglês. Seria a indicação de que o filme se dedicaria em revelar um artista aos olhos americanos. A própria história de vida de Muniz, alguém de origem humilde que conseguiu ascender socialmente e ser reconhecido internacionalmente, cai bem ao gosto da plateia dos EUA.

Mas o aterro sanitário de Jardim Camacho, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, revelou personagens que fizeram o foco dos documentaristas se alterar. Aos poucos, o olhar dos cineastas deixa o artista plástico para seguir os anônimos que sobrevivem em meio ao lixo.

Suas histórias de vida e pequenas pérolas populares vão conquistando os cineastas. Parte do carisma desses personagens está na sua alegria e orgulho em viver.

Ao final, o filme deixa uma mensagem de respeito a esses personagens, que passam de modelos para um trabalho artístico a seres humanos que buscam dignidade em um ambiente desprezado pela sociedade.

"Lixo Extraordinário" começa e termina com uma entrevista de um catador de material reciclável no "Programa do Jô". Entre o primeiro momento e o último, o filme ajuda a transformar um anônimo muitas vezes tratado como pária em um personagem excepcional. É o mesmo processo que Muniz utiliza com o lixo, reciclando-o para se tornar arte.