Machuca (2004)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

Esperava-se que este filme chileno, campeão de bilheteria em sua terra, fosse indicado ao Oscar de produção estrangeira. Não aconteceu mas fez sucesso no nosso circuito de arte. O título estranho se refere a um dos protagonistas, um garoto chileno pobre da época do presidente Allende, que ganha uma bolsa para estudar numa Igreja Católica. E lá faz amizade com um garoto ruivo e de família classe média, chamado Gonzalo. O menino é que se chama Machuca, Pedro Machuca.

Deve ter sido novidade situar uma história assim humana sobre garotos, passada na época efervescente em que o país se dividia entre os que apoiavam o presidente socialista Allende, os pobres e a classe média conservadora. Gonzalo é um menino inquieto que se sente atraído pelo colega que vive numa favela numa família muito pobre e feliz (um problema é a pobreza feliz e saudável, contra a classe média decadente, com a mãe adúltera, o namorado da irmã idiota e o pai ausente e incompetente).

O filme até insinua uma certa atração física de Gonzalo por Machuca, mas isso não é levado adiante. O que importa é a diferença de classes numa época conturbada, numa idade difícil e de transformações (dá toda a impressão de ser uma história autobiográfica, até pela dedicatória ao final feita ao padre inglês).

Realizado com poucos recursos, imagem granulada, o filme teria que se sustentar na interpretação dos protagonistas. Mas os dois são bem fracos, em particular o ruivinho, que passa o filme inteiro com a mesma expressão e biquinho. Nem mesmo ao final consegue ter mais força.

Isso compromete o resultado, num roteiro que não foge de clichês (ou citação, se preferirem, há uma cena onde faz igual à "Sociedade dos Poetas Mortos", embora seja difícil aceitar essa ação de Machuca, já que durante o filme não se mostrou qualquer relação maior dentre ele e o padre. Mesmo a amizade dos garotos é mal justificada, porque eles têm pouco em comum e quase nenhuma troca de informações ou experiências).

Por outro lado, o abismo entre pobres e ricos é muito bem marcado, tanto nas reuniões entre pais e mestres, mas principalmente nas cenas derradeiras, essas sim de grande impacto. Que deixam um sabor amargo na boca da gente. E que certamente são a razão de tantos prêmios internacionais.