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Ficha completa do filme

Romance

Não Amarás (1988)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
Não Amarás

Em 1988, o diretor Krzystof Kielowski (1941-96) realizou a minissérie de televisão "O Decálogo", em dez episódios com cerca de 50 minutos cada um. Apesar de inspirados nos Dez Mandamentos, nenhum dos capítulos traz o preceito religioso indicado, tendo apenas o número como indicação no título original. Duas partes da obra televisiva foram expandidas em curtas-metragens de grande sucesso, este e "Não Matarás".

O filme foi consagrado no 46º Festival de Veneza como uma obra-prima. A série foi exibida no Brasil pela TV Cultura, mas nunca saiu em vídeo. Nos Estados Unidos, também foi lançada em vídeo, mas só em 2000 foi apresentada no circuito de salas de arte com sucesso notável de crítica.

Em toda a série foi utilizada a mesma equipe técnica, com apenas uma exceção marcante: o diretor de fotografia, diferente a cada episódio.

Para se situar melhor, é bom para o espectador entender o momento que a Polônia, país intensamente católico, vivia quando a obra foi feita, ainda sob o jugo do regime comunista.

Toda a ação se passa num conjunto de apartamentos de classe média e as vidas dos 25 personagens se entrecruzam. A narrativa fica entre a crônica e a metafísica, mas basicamente é um drama existencial advindo do cotidiano, em que a avidez, o engano, o sexo, a mentira, a traição, o assassinato e o furto se fazem presentes.

Por vezes, a moral da história é muito explícita, mas os personagens nunca são julgados, eles já vivem num inferno criado por si mesmos, por sua "liberdade de escolha".

Kiewslowski apresenta uma maneira particular de filmar, sempre atento a detalhes - um copo que cai, um menino olhando uma pomba, um goteira no hospital - com uma extraordinária sensibilidade, que parece ser única entre seus contemporâneos.

O trabalho dos atores é de uma enorme naturalidade, sem jamais cair nas armadilhas clichês do telefilme americano. Embora praticamente todas as histórias tenham um final surpreendente ou irônico, elas constituem antes de tudo um grande painel do comportamento humano.

No contraponto ao que cinema norte-americano nos ensinou a ter certas expectativas, Kieslowski surpreende sempre - de forma tão extraordinária, tão pouco usual e infelizmente ainda quase desconhecida - que fica difícil escolher um preferido. Este filme singelo e delicado é das mais belas historias de amor do cinema.

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