Nem Tudo É o que Parece (2004)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema

Nota: 3

O diretor Vaughn foi produtor dos filmes do marido de Madonna, Guy Ritchie, em "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", "Snatch - Porcos e Diamantes", "Destino Insólito" e no pouco visto "Penalidade Máxima".Ou seja, tem experiência em retratar o sub-mundo londrino e também em fazer fitas ágeis,espertas, modernas. Por isso, não chega a ser uma surpresa ver este policial, que impressionou tantos os estúdios americanos que lhe rendeu um contrato para realizar o blockbuster "X Men III" (ainda que logo depois tenha brigado e largado o projeto).

Realmente, este filme demonstra competência e talento promissores, ainda que tenha um problema, a trama excessivamente complicada. Na sessão que assisti com os jornalistas, ficamos nos perguntando "esse quem é? mas donde apareceu tal sujeito?". Ou seja, foi preciso fazer uma conferencia para se tirar as conclusões diante do enredo tortuoso e difícil (ainda que seja uma característica do gênero policial ou noir, onde com freqüência a história é mero pretexto para a narrativa).

Por outro lado, vale assistir o trabalho criativo do diretor, até para dar uma chance a Daniel Craig (a quem previ grandes coisas depois de "Estrada para Perdição" mas que não deve funcionar como James Bond). Baseado em livro e roteiro de J J Connelly, o titulo original se refere a um bolo de camadas, maneira de se referir à sociedade britânica, cheia de barreiras sociais com dificuldade de se misturar. E curiosamente na cena quase final, eles estão comendo um bolo desse tipo.

O herói é um traficante de drogas extremamente cuidadoso e profissional (também é narrador, outra tradição do gênero), planejando uma aposentadoria precoce, até o dia em que o chefão lhe pede um favor pessoal: localizar a filha drogada de um homem importante. Ele pede a ajuda de capangas amigos para o trabalho, mas acidentalmente o namorado da moça é morto. Isso é apenas o começo de uma história que desafia resumos , mas por isso mesmo é interessante. A situação se complica quando um grupo ligado ao herói consegue se apossar de um carregamento de ecstasy no valor de dois milhões de dólares que pertence aos russos e vai provocando sucessivos tiroteios e massacres.

É curioso também por revelar um submundo aonde não prevalecem mais os códigos mafiosos de honra e lealdade, mas onde vale tudo, cada um é por si (até o final também inesperado em vários sentidos). Indicado ao BAFTA de diretor estreante (Vaughn também foi o melhor diretor do ano pela revista Empire), o mais divertido é que ele só assumiu a direção porque Ritchie tinha outros compromissos.