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Ficha completa do filme

Terror

O Chamado (2002)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
O Chamado

Depois de Cannes 2002, por recomendação do amigo e especialista Otávio Moulin, eu trouxe de Paris o DVD do filme japonês "Ring" ("Ringu", 1998), que havia sido um fenômeno no Japão e em todo Oriente. Já tinha virado trilogia (um deles, uma espécie de prólogo), consagrando um gênero que, até então, não era especialmente popular por lá. Agora que a Dreamworks comprou os direitos de refilmagem e o refez quase literalmente como "O Chamado", me dei ao trabalho de assisti-lo novamente. Com surpresa, mas não muito.

A versão americana é muito melhor, mais bem realizada, com um roteiro mais coerente, que procura cobrir falhas e explicar detalhes (ainda que alguns deles fiquem no ar). Apesar do diretor Gore Verbinski não inspirar confiança por causa do curriculum anterior ("Um Ratinho Encrenqueiro" e "A Mexicana"), ainda que depois tenha feito o sucesso "Piratas do Caribe".

Mas, basicamente o filme original de Hideo Nakata é medíocre como realização, e tem basicamente a mesma história, inclusive a mesma resolução final (só que tudo é resolvido com uma narrativa off, não se mostra a solução). Isso pode ser conferido agora, porque o filme foi lançado em DVD também no Brasil (mas preciso admitir que ele tem seus defensores). O tema é inspirado numa daquelas chamadas lendas urbanas, ou seja, histórias de que todo mundo ouviu falar, mas não existem provas. No caso, de um misterioso vídeo que provocaria a morte de quem o assistisse num prazo de sete dias.

O que é sempre um problema, porque é difícil criar um roteiro com certa lógica a partir de um tema tão aberto. Os dois filmes, o original e o americano, contam a mesma coisa. Só que tudo no japonês é mais pobre, com menos clima, menos recursos, piores atores (a repórter é de TV), e a única diferença básica é que a resolução tem os mesmos caminhos e meandros (nada daquela história de cavalos, de hospital, de pai, aras, investigação, tudo no original fica na adivinhação e na mediunidade). O casal vai direto para a solução intermediária (estou tentando criticar sem entregar demais, nem revelar mistérios). Ou seja, os americanos souberam, desta vez, ampliar e melhorar as situações, corrigindo falhas e deixando os detalhes mais claros.

Utilizam ainda a mesma figura macabra , e com os mesmos cabelos, mas não desenvolvem tanto a conclusão (que é justamente o original da fita). Ou seja, obviamente ela não foi feita apenas para ter uma continuação, mas sim para ser parte de uma trilogia (o que certamente irá acontecer, já que o filme foi um sucesso maior que o esperado nos EUA, chegando aos 130 milhões de dólares para um orçamento bem generoso de 45 milhões).

"O Chamado" repetiu o êxito aqui, até porque é bem interessante e, no gênero, chega a surpreender. Não há qualquer problema em fazer citações de "Poltergeist" (mesmo porque qualquer filme que mostre uma tevê fora do ar e alguém saindo dela irá recordar aquele filme, e qual a fita recente que não faz citação de outra?).

A surpresa, para mim, foi a segurança com que o diretor Gore conduz o filme, que nem procura o susto fácil, mas sustenta um clima permanente de tensão, sempre deixando o espectador curioso e atento. Repito que alguns detalhes não ficam claros (talvez seja proposital, para sobrar para o resto da trilogia), mas o público até gosta de sair discutindo algumas dúvidas. O elenco é menos feliz.

A australiana Naomi Watts ("Cidade dos Sonhos"/"Mulholland Dr"), amiguinha de Nicole Kidman, está bonita e segura bem o personagem da repórter. Não gostei do neo-zelandês Martin Henderson (não lembro dele de "Códigos de Guerra", em fita de guerra é difícil guardar os rostos), que faz o pai do filho pequeno dela (um dos melhores achados do original, e aqui também é o fato do menino também assistir ao vídeo, ou seja, passa a ser uma corrida contra o tempo para salvar a vida do filho).

Em compensação tem dois grandes atores como coadjuvantes, Jane Alexander (muito envelhecida), e o sempre grande Brian Cox (ultimamente em tudo que é filme). O fato é que é misterioso, bem realizado (tem até maquiagem do famoso Rick Baker), intrigante e uma boa surpresa para os fãs do gênero. Amber Tamblyn, que faz moça do princípio, a primeira vítima, é filha de Russ Tamblyn, lendário ator juvenil da Metro e de "West Side Story". E o roteiro foi feito por Ehren Kruger, notável por ter escrito "Pânico 3", " O Suspeito da Rua Arlington" e o recente "O Impostor".

Há outras curiosidades sobre o filme: existe um remake coreano chamado "The Ring Virus", que mistura elementos de terror do filme com os científicos do livro original (alguns fãs acham a fita melhor que a japonesa, ainda que as atuações sejam péssimas), e uma continuação alternativa para o "Ring 1" chamada "Rasen", que explica tudo sobre a maldição e, como no livro, tudo "científico", e que por deixar o terror de lado. Foi um fracasso total.

A cena da menina com aquela divisória dentro do manicômio, para fugir da televisão, é inspirada no "Ring 2". Eles pegaram elementos de todos os filmes para escrever este roteiro.

Atenção este é um "spoiler", só leia depois de ver o filme, e se quiser mais informações. Estão prevenidos. Revela dados importantes do final e de toda a trilogia. Só para situar, o "Ring 2" (japonês) continua logo depois, na autópsia da menina.

Aquela assistente do ex-marido começa a investigar o caso junto com um colega da repórter, e descobrem que aquela garota que foi para o manicômio consegue emitir as imagens da fita através de telepatia para televisores, e que a maldição ficou mais forte. Confirmando, assim, que se trata de trilogia, mesmo prevista desde a origem. A repórter e o garoto do primeiro estão desaparecidos, depois que o pai dele morre (já que no final do japonês dá a entender que ela vai mandar o filho mostrar o vídeo pra ele, para não morrer).

Aí a assistente acaba encontrando os dois, a repórter acaba morrendo e o menino começa a apresentar poderes iguais da Sadako/ Samara. Eles voltam pra ilha para fazer um experimento científico e depois de muitos sustos, o garoto catalisa a energia negativa dela e, logo depois, libera para o plano astral, acabando (aparentemente) com a maldição.

O "Ring Zero" mostra a origem da Sadako, e é confuso. Ela, na verdade, não é uma menina, e sim uma hermafrodita. Antes de ser morta e jogada no poço, é estuprada por um daqueles caras que estavam na apresentação dos poderes paranormais, e ele foi o último caso de catapora do Japão. Assim, cria o chamado "Ring Virus", que mistura o material genético dela (que tem gene masculino e feminino) com o vírus da catapora. Depois, com os poderes que tem de imprimir imagens (como no "Ring" americano, onde ela estampa na chapa de raio x e na parede), faz a fita e a contamina com o vírus. E é o vírus que mata as pessoas, que têm alucinações com ela no sétimo dia, o fim do ciclo de vida do vírus. Se ela passar pra frente o vírus, ele não ataca, pois ganha mais tempo de vida. Parece forçada de barra, mas o livro original é realmente assim. Ele é menos terror e mais ficção, com toques de Robin Cook (autor especializado em thrillers de suspense em livros).

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