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Ficha completa do filme

Drama

O Corte (2005)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 2
O Corte

O diretor grego Costa-Gavras nunca brilhou por seu senso de humor e raramente fez comédias (como em "Conselho de Família", 1986). Desta vez é preciso ler no press release que se trata de comédia para entender que tudo deve ser visto com um olhar satírico, quase de farsa. Aliás, como caberia bem a uma adaptação do escritor americano Donald Westlake, que é especialista neste tipo de trama crítica (como em "Os Imorais/ The Grifters").

Ou seja, faltou na realização uma mão mais leve, que acentuasse o tom jocoso e irônico das situações. Um erro que deixou o filme pesado, até trágico e por isso amargo e difícil de suportar. A semelhança com outros filmes franceses/ europeus sobre desemprego tem até a ver (como "O Adversário"). Mas deveria ter sido um filme anárquico, jocoso, como as antigas comédias à la italiana. Errando na pegada, o filme sofre por isso e vai mal de público.

Está muito longe do impacto de outras fitas do diretor de "Z", "Estado de Sítio", "A Confissão". Mas alerta para a crise da classe média francesa que está sendo implodida pela modernidade e globalização. A piada recorrente da fita é que sempre alguém está desempregado, foi mandado embora e não acha emprego porque sua empresa foi reduzida ou se fundiu com outra, ou se mudou para a República Tcheca, onde os salários são menores.

No caso, é um engenheiro da indústria de papel, prepotente e competente (José Garcia) que meses depois de ter sido despedido ainda não consegue trabalho. A história já é contada em flash back, quando ele recorda o que acabamos de assistir: ele seguiu um sujeito com um revólver e acabou atropelando-o friamente. De fato, ele virou um serial killer. Seu plano: eliminar todos seus possíveis concorrentes, de forma que ele seria a única alternativa possível dentro do mercado. Ou seja, mata um a um, com confusões e complicações (lembrando um pouco "Munique" de Spielberg) até chegar ao sujeito que precisa morrer para ter uma vaga disponível.

Como é possível nos fazer identificar com um canalha tão terrível, principalmente quando o filme humaniza várias das vítimas, que são umas coitadas, ainda mais infelizes que ele. Ou seja, torcer por aquele bandido é impossível. Mesmo quando a gente acompanha sua vida em casa, com o filho que estava roubando softwares e a mulher que está querendo se separar (e o obriga a participar de conselhos matrimoniais).

Embora o filme seja até interessante, ele também é repulsivo. Mesmo indicado para César de Ator (Garcia é bom e cumpre seu papel), Roteiro, é uma comédia sem risos, que se perdeu no caminho. Uma pena porque é um tema atual e importante.

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