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Ficha completa do filme

Drama

O Desprezo (1963)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4
O Desprezo

Godard gostava de Brigitte Bardot porque ela estourou como o maior símbolo sexual da França enquanto ele era critico do "Cahiers du Cinéma", e a figura dela foi confundida com a da Nouvelle Vague. Ficaram amigos, e ela faria ainda para ele uma aparição em "Masculino Feminino". Produzido por Carlo Ponti (marido de Sophia Loren), o filme é baseado em livro de Alberto Moravia, mas com toques totalmente pessoais de Godard, que já começa com a ausência de letreiros (eles são ditos pelo próprio diretor, assim mesmo só os básicos) citando Bazin ("O cinema mostra-nos um mundo de acordo com os nossos desejos"), mostrando um travelling feito por seu próprio câmera (Raoul Coutard). Depois, citando "E Deus Criou a Mulher", tem um nu de Brigitte, com seu famoso traseiro, enquanto ela questiona o marido se gosta de tudo dela. Uma cena que foi feita só ao final, porque os produtores exigiram mais nudez no filme!

Embora este não seja o filme mais típico dela, acabou sendo o mais reprisado por causa do prestígio do diretor, que na época renovava toda a linguagem cinematográfica. E fazia muitas referências ("O cinema é uma invenção sem futuro", dos irmãos Lumiére) e criava grandes frases ("não foram os deuses que criaram o homem, mas o homem que criou os deuses"). Teve crítico que interpretou a história do filme como um paralelo à "Odisséia", com Palance como Posêidon, Brigitte como Penélope e Piccoli como Ulisses. Outros acham que Godard fala dele mesmo, identificando-se com o roteirista, a esposa com Anna Karina (mulher de Godard então) e o produtor com Ponti e seu sócio aqui Joseph Levine.

O primeiro ato se passa no decadente estúdio de Cinecittá. Num segundo ato, o casal passa a discutir interminavelmente. No terceiro, eles se mudam para Capri, numa espetacular locação: a casa do escritor Cuzio Malaparte. Também se homenageia o grande diretor alemão Fritz Lang, já então aposentado (ele diz que o Cinemascope, ou seja widescreen, é ideal para fotografar cobras e caixões, não gente). É uma ilustração do duelo entre arte e comércio, Europa e América, representados por Lang e Palance. Mas também um filme caro e internacional, um gênero que Godard nunca mais quis experimentar. Brigitte está sincera e sensual como sempre (mas hoje parece incrível o sucesso que ela fez então em todo o mundo, inclusive com o penteado). Foi o primeiro papel central de Piccoli, que trabalhava no cinema desde 1945. A edição é excelente.

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