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Ficha completa do filme

Aventura, Drama

O Dia Depois de Amanhã (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
O Dia Depois de Amanhã

Poderia ser um filme catástrofe como um outro qualquer. Mas tem uma diferença. Num determinado momento, o presidente americano é obrigado a perdoar a dívida externa dos mexicanos para que eles admitam o êxodo dos americanos do norte que estão fugindo da nevasca, da nova Era Glacial que se abateu sobre o mundo.

E os papéis se invertem, com os americanos tentando fugir para o México. E mais tarde, o presidente (ex-vice), que por sinal é o vilão de tudo, pede perdão para esse Terceiro Mundo, porque sem a ajuda deles não teria mais Estados Unidos. Essas cenas foram aplaudidas entusiasticamente em salas de Miami, por exemplo, (imaginem então no México). Mas elas refletem bem a mudança de ponto de vista entre o filme anterior do diretor Roland Emmerich que foi "Independence Day" (vamos dispensar o do meio, "Godzilla", como um deslize descartável, e "O Patriota", como um erro grave).

Vocês lembram como os americanos eram senhores do mundo, arrogantes e invencíveis. Felizmente Emmerich, como alemão, sentiu a diferença de clima (ao menos no exterior) e deu uma lição de humildade, vinda justamente do vilão, que não por acaso, lembra muito o verdadeiro vice de Bush, Dick Cheney. Apesar de ter sido produzido pela Fox, que tem o mais radical telejornal americano, este filme tem uma mensagem ecológica liberal. Não faz tanta diferença se em certos detalhes as coisas não aconteceriam exatamente como o filme descreve.

Já que é ficção-científica, que estamos apenas no domínio do possível, é ridículo ficar discutindo isso. O importante é que o filme ataca frontalmente os EUA por estarem provocando o aquecimento do planeta, recusando indícios e não assinando tratados. E que são eles quem pagam o pato (de forma obviamente alegórica). Como todo disaster-movie, este não brilha especialmente pela qualidade do roteiro, que está repleto de lugares comuns (o intelectual judeu tentando salvar a primeira Bíblia de Gutemberg), de situações improváveis (o rapaz mergulha na água gélida e quase morre de frio, a moça fica até a cintura e não sente nada), até absurdas (a proposta do pai vir salvar o filho em Nova York: não era mais lógica passar as instruções para ele fugir dali...?). E outras forçadas (a mãe que se sacrifica para ficar no hospital sozinha com a criança condenada pelo câncer).


Basta dizer que já vimos piores. Mas ainda custa ter que agüentar uma história de outro pai que despreza e abandona o filho (como se americano fosse pai latino, quando ficam adultos eles botam para fora de casa mesmo e só voltam em dia de ação de graças, nem Natal vale). Então é uma baboseira essa história de Dennis Quaid vir atrás do filho Jake Gyllenghal, que se refugiou na Biblioteca Pública de Nova York, junto com a namoradinha (Emmy Rossum, importante porque é ela quem estrela o novo "Phantom of the Opera").

Ou seja, nenhum dos personagens é especialmente interessante (nem o excelente Ian Holm que faz o cientista que, como sempre, se sacrifica pela ciência; nem os coadjuvantes que a gente sempre sabe que vão morrer). Em compensação, os efeitos especiais estão de bom para melhor. Há uma espetacular seqüência de twisters que destroem Los Angeles (começando pelo sinal de Hollywood), que demonstra como os efeitos evoluíram nos últimos anos. São realmente impecáveis e memoráveis: um navio que passa pelas ruas de Nova York, a cidade toda ocupada pela neve (ela não é destruída, só congelada!), a visão dos astronautas em órbita. E a Estátua da Liberdade (que pela lógica teria sido destruída, sua sobrevivência é simbólica).

Como o público tem um enorme fascínio por apocalipses e desastres, o filme até que é dos melhores do gênero. Pelo menos me deixou mais tranqüilo, já que no final das contas, segundo ele, o Brasil passará incólume. Nada como viver neste paraíso tropical!

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