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Ficha completa do filme

Drama

O Pianista (2002)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
O Pianista

Pouca gente se deu conta dos feitos extraordinários realizados por este filme. Principalmente quando chegou a hora de ganhar prêmios. Acabou sendo o filme mais premiado do ano de 2002. A trajetória começou no Festival de Cannes, onde ninguém esperava que levasse logo o prêmio máximo, a Palma de Ouro. Ainda que fosse considerado um prêmio mais pela obra completa de seu diretor Roman Polanski do que pelo filme em si.

Esse prêmio avalizou a fita que dali em diante, iria discretamente e aos poucos, caminhando para outros feitos ainda maiores. Todo mundo sabe como os franceses são xenófobos e Polanski, embora nascido na França (acidentalmente) de pais poloneses, fez um filme basicamente na terra onde cresceu, falado em inglês. Ou seja, tem muito pouco de francês e no entanto, na hora dos Césars, os Oscars franceses, o filme novamente deu um banho. Levou os prêmios de Melhor Filme do ano (embora pouco tivesse de Francês), Melhor Ator (para o americano Adrien Brody), Melhor Diretor, Trilha Musical (para o polonês Wojciech Kilar), Melhor Som, Fotografia (o polonês Pawel Edelman) e Desenho de Produção. Tendo sido indicado ainda para Melhor Figurino, Montagem e Roteiro.

Pouco antes do Oscar, veio o BAFTA (do British Film Institute, o maior e mais importante da Inglaterra) onde novamente surpreendeu e ganhou como Melhor Filme e Diretor (foi indicado ainda como Trilha, Fotografia, Ator, Roteiro Adaptado e Som). Mesmo assim, pouca gente acreditava nele no Oscar, até porque não teve uma grande verba de publicidade, porque não era da Miramax (cujo dono Harvey Zeinstein, publicamente recusou comprar o filme para o mercado americano um dia antes dele ganhar a Palma), que gastou fortunas para promover "Gangues de Nova York" e seu diretor Martin Scorsese.

Havia também muita discussão quanto ao fato de Roman Polanski ser um fugitivo da justiça americana e que se caso fosse à festa do Oscar poderia ser preso (ele escapou dos Estados Unidos em 1978, quando estava ameaçado de prisão por corrupção de menores, por ter tido sexo com uma menor de 15 anos, ele diz que consensual. A própria ex-vítima veio a público para defendê-lo na véspera do prêmio). A Academia pode ser moralista e esse crime no passado poderia ter excluído Polanski das premiações. E prejudicado o filme. Mas não foi o que sucedeu. Indicado para Filme, Montagem, Figurino e Fotografia, acabou ganhando nas outras categorias, Melhor Roteiro Adaptado (para o inglês Ronald Harwood), Melhor Ator e Direção.

No caso, de Brody, certamente ajudou o fato de que os outros indicados já tivessem Oscars e o fato de que ele tivesse uma longa carreira atrás de si (desde ponta em "Contos de Nova York", em 1989). Mas a qualidade de seu trabalho era indiscutível. Como a Academia nunca revela qual foi o resultado (ou seja, quem tirou segundo, ou terceiro), jamais saberemos com certeza o que sucedeu. Mas é provável que os votos tenham sido divididos entre Rob Marshall ("Chicago") e Scorsese, e tenha sobrado para Polanski. E foi injustiça? Não se ouviu ninguém dizer isso. Até porque foi a oportunidade de se fazer justiça a um grande cineasta de longa carreira, com filmes memoráveis ("Chinatown", "O Bebê de Rosemary") e que retornava em forma depois de alguns deslizes mais ou menos sérios ("O Último Portal", com Johnny Depp em 1999 foi um desastre). Tanto que nos últimos anos, ele tem se dedicado mais ao Teatro e o trabalho como ator.

Mas aos 69 anos (na época da filmagem), Polanski encontrou um assunto digno de sua atenção e que tinha tudo a ver com sua vida. A razão porque ele evitou entrevistas é porque os jornalistas inevitavelmente iriam perguntar sobre sua vida particular, que tem alguma semelhança com a do personagem. Como Wladyslaw Szpilman, o pianista, ele também era judeu e foi vítima das perseguições. Só que teve mais sorte, ainda pequeno, conseguiu ser protegido por uma família católica que o criou no interior, sem revelar sua identidade. Na verdade, muita gente esperava que Polanski fizesse sua própria vida, que era tão ou mais dramática que a do filme. De qualquer forma, dá para entender ao mesmo tempo, a atração e repulsão que teve pelo assunto.

Curiosamente por entender tanto sobre o que estava contando, Polanski não adotou uma narrativa dramática ou sentimental. Ao contrário, preferiu construir um filme sóbrio, discreto, talvez até acadêmico (uma das grandes sacadas do filme é usar como trilha musical composições de Chopin, certamente o compositor que melhor soube captar a alma do povo polonês). Certamente a história não é nova, houve antes outros filmes sobre o Holocausto e o Levante de Varsóvia, e mesmo "A Lista de Schindler", de Spielberg, levantou o padrão desse tipo de história para um alto nível. Mas muita gente, principalmente os jovens não têm idéia que na Polônia, durante a Segunda Guerra, os judeus foram confinados em um bairro, que virou o chamado Ghetto de Varsóvia, onde aconteceu o mais importante levante armado de Resistência contra os nazistas.

A história do Pianista é real. Realment eexistiu esse artista que tentou viver nas sombras, sem ser notado, escondido durante todo o transcorrer do conflito. E foi isso e a dignidade do relato que tanto comoveu os críticos.

Particularmente não gosto muito do filme. Acho o trabalho de Polanski medíocre, sem inspiração ou maior empenho. Fez uma fita de velho. Não gosto também da atitude do personagem que passa a Guerra toda dormindo, passivo, sem agir e acaba sendo ajudado por uma figura clichê, o do bom nazista. Já houve filmes melhores e mais tocantes sobre o tema. Saiu em duas edições, uma em Tela Cheia (Standard), outra em Widescreen.

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