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Ficha completa do filme

Drama

O Segredo de Brokeback Mountain (2005)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4

Com oito indicações para o Oscar 2004 (filme, fotografia, ator para Ledger, coadjuvante para Gyllenhaal e Michelle Williams, diretor, roteiro e trilha musical) era o favorito para melhor filme, mas o prêmio acabou indo para "Crash", levantando suspeitas de que a Academia seria conservadora e homófoba. Ganhou em direção, roteiro adaptado e trilha musical.

Mais do que uma fita modesta (custou apenas 14 milhões) e de arte, se tornou um verdadeiro evento. Foi um grande sucesso de bilheteria (chegou a 83 milhões de dólares de renda), virando também mote de piadas e assunto obrigatório de conversa. Afinal mexeu com uma figura ícone da cultura americana que são os cowboys, só que desta vez envolvidos num romance gay.

Mas não há nada de engraçado ou gaiato no filme, que transcende o tema. Não é apenas uma historia de amor homossexual, mas uma fita séria, contemplativa sobre a solidão (o ritmo é propositadamente lento) que vai tocar todo mundo que já teve um amor proibido, que não foi capaz de assumi-lo (por medo ou pelas pressões familiares). E que ao viver uma mentira, não apenas destruiu sua vida mas a de todos ao seu redor.
É baseado num conto , quase uma pequena novela de E. Annie Proulx (autora de "The Shipping News", que gerou o filme "Chegadas e Partidas"). O roteiro de Larry McMurty ("A Ultima Sessão de Cinema") e sua habitual parceira Diana Ossana, é extremamente fiel ao texto original, mas cria muitas situações. No entanto, praticamente tudo que esta na tela é ao menos sugerido no livro. Inclusive o final.

O filme não teria dado certo sem a direção de Ang Lee, um realizador oriental de grande sensibilidade (por isso mesmo se deu mal com "Hulk") e que já tinha feito um filme sobre o assunto logo no começo da carreira ("O Banquete de Casamento", de 1993, que o revelou). O fato de ele ser um estrangeiro e trazer com isso um olhar diferente sobre a paisagem e a cultura do ocidente atual, acabou sendo um fator positivo, evitando qualquer sensacionalismo, mas sem fugir do tema.

Brokeback Mountain é uma montanha do Wyoming, para onde vão dois jovens cowboys desempregados em 1963, contratados para cuidar das ovelhas de um rancheiro (Randy Quaid). O lugar é muito frio, distante e solitário. Os dois rapazes são calados e mal resolvidos. Ennis Del Mar mal consegue se expressar (o ator Heath Ledger fala para dentro, como se tivesse uma batata quente na boca, como um Murilo Benicio americano). Jack (Jake Gyllenhaal) obviamente já é mais experimentado, sabe do que gosta.

Eventualmente, os dois fazem sexo e iniciam uma relação. Mas quando termina o verão cada um vai para seu lado, sem se falarem. Os dois irão se casar. Ennis com uma namorada antiga (Michelle Williams, de "Dawson´s Creek" que se tornou mulher de Heath durante as filmagens) e Jack, dando o golpe do baú, com uma garota filha de pai rico (Anne Hathaway, que muda de tipo depois de ter sido estrela de Disney com "Diário de uma Princesa").Condenados a uma vida de mentiras, os dois eventualmente se reencontram (e talvez a melhor cena do filme seja este, quando eles não conseguem esconder a tensão e o desejo). E a esposa de Ennis, os vê sem entender direito o que esta acontecendo. Dali em diante, uma ou duas vezes ao ano, eles irão se reencontrar passando uma temporada na Montanha. Vivendo de ilusões, de solidão, sem coragem de se assumirem (o filme e o conto deixam isso bem claro na historia de Ennis sobre um cowboy efeminado que foi morto e enforcado pelo pênis que o pai lhe levou para ver quando pequeno).


Curiosamente o diretor resiste a tentação de fazer um filme romântico ou melodramático embora a trama pudesse permitir isso. Tudo é distanciado, até um pouco frio, mas talvez por isso funcione bem. Dá tempo pára o espectador raciocinar, simpatizar com os personagens, entender a armadilha de que não conseguem escapar. Eles se tornam tão humanos, tão próximos que não é um filme que se presta a risos embaraçados (as cenas são razoavelmente claras). Dá certo, embora não seja exatamente perfeito.

Há um problema com a maquiagem que não consegue fazer os protagonistas envelhecerem vinte anos de forma convincente. Jake tem uma cara de gaiato que não permite aprofundamentos e Heath fala pra dentro. Mas nada disso, prejudica o resultado final. Nem a força da conclusão ou o impacto do filme.

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