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Ficha completa do filme

Comédia, Romance

O Terminal (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 3
O Terminal

É fácil explicar o relativo fracasso norte-americano deste filme (custou mais de 60 milhões de dólares e rendeu cerca de 76), transformando-o na pior bilheteria da carreira de Spielberg em mais de 30 anos. Nunca a pieguice e a infantilidade de Spielberg estiveram tão patentes e a serviço de um projeto tão mal-conduzido e inadequado a ele.

O filme nasceu velho a partir dos fatos de 11 de setembro de 2001, quando os aeroportos norte-americanos se fecharam aos estrangeiros e o pavor de novos atentados endureceu o tratamento reservado aos visitantes. Tudo o que se vê no filme soa mentiroso, fantasioso, inverossímil. Nada aconteceria como é mostrado, ninguém seria tratado com tanta cortesia e condescendência, nem haveria tanta boa vontade e cumplicidade por parte dos empregados (aliás, os nova-iorquinos são famosos por sua grossura e desinteresse).

Pode-se argumentar que o filme seria de época, o que nunca fica claro (pelo contrário, há muitas referências contemporâneas, até mesmo na cena final). No Making of, Spielberg diz que depois de uma sucessão de filmes sérios e sombrios (o período entre "O Resgate do Soldado Ryan" e "A.I. Inteligência Artificial"), resolveu fazer filmes mais leves e só para divertir o público. Só isso, ou a vontade de trabalhar novamente com o amigo Tom Hanks, explica sua dedicação a esse projeto, que normalmente apenas produziria para outro dirigir.

A partir de sua entrada na direção, o que poderia ser um filme pequeno e curioso ganha ares de super-produção, que incluiu a construção em estúdio de um gigantesco terminal de passageiros do aeroporto JFK de Nova York (existem vários, separados por companhias, e aqui se fala na United).

Embora o desenho do lugar lembre o verdadeiro, parece que viram isso como uma chance para vender merchandising, inundando o filme de marcas, de figurantes, e distraindo o público da precariedade do roteiro.

Vagamente inspirado em fato real (uma pessoa que morou num terminal francês e que inspirou o simpático filme "Caídos do Céu"), o filme lembra também a comédia italiana "Mortadella", com Sophia Loren (onde ela não podia desembarcar porque trazia uma mortadela italiana).

Mas são outros tempos. Hoje entrar nos EUA é complicado e o sujeito seria repatriado ou preso, sem mais delongas e nunca casualmente ignorado como o filme mostra. Ou seja, o ponto de partida da história é furado e sem sentido. Tom Hanks (gordo, meio inchado e não especialmente bem no papel), faz um turista que vem de um país fictício que pertenceria à antiga União Soviética. Vai aos EUA para realizar uma tarefa misteriosa (quando se sabe da explicação, fica difícil desculpar o roteiro, seria dureza achar uma justificativa mais tola e sem graça).

Mas não pode entrar no país porque houve um golpe de Estado em sua terra e seu passaporte não é mais válido (o que também é discutível e encenado de uma forma que exige extrema boa vontade do público) até os EUA reconhecerem o novo governo.

Confinado ao terminal, o herói aos poucos vai fazendo amizade com outros imigrantes (de forma artificial e forçada), absurdamente consegue trabalho como construtor de paredes, tem um conflito extremamente mal explicado e inconsistente com o chefe de segurança do terminal (feito de forma vacilante por Stanley Tucci) e, para completar, inicia um romance com uma linda aeromoça (Catherine Zeta-Jones).

Catherine merece um parêntesis. Trabalhando com um papel totalmente inverossímil, ela consegue dar alguma verdade, se tornar encantadora e vulnerável, sem cair na caricatura em que por vezes Hanks cai. Com direção de atores irregular, roteiro preguiçoso e até a habitual trilha sonora de John Williams mal aproveitada, o filme tem pouquíssimas marcas registradas da presença de Spielberg na condução dos trabalhos, e nada da sua magia e inventividade.

A única forma de aceitá-lo é como uma tentativa fracassada de fazer uma fábula no estilo Frank Capra, um conto de fadas onde Spielberg tenta dourar a pílula da loucura do mundo atual e manter a lenda da hospitalidade americana, dos Estados Unidos como a terra das oportunidades e da liberdade. Mas infelizmente isso só ficou mesmo na intenção.

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